A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) mantém equipes trabalhando em duas frentes sobre o aquecimento global: uma traça os principais impactos e a outra desenvolve variedades mais resistentes. Entre os cenários já vislumbrados, os efeitos mais graves do aumento da temperatura nas próximas décadas seriam sentidos especialmente pelo milho e pela soja, as duas principais culturas anuais do país.
“Essas culturas passariam a ter condições climáticas desfavoráveis na época em que necessitam muito de condições propícias como chuvas e temperaturas amenas na fase de florescimento”, afirmou o pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária Fábio Marinho, em entrevista à Agência Brasil.
O pesquisador explicou que a agricultura brasileira não precisa hoje de irrigação em grande parte da área cultivada por contar com chuvas ainda em volume adequado e bem distribuídas. Entretanto, a se confirmarem as previsões do IPCC (sigla em inglês para Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), o aumento de temperatura elevaria a demanda de água e se as chuvas não caírem de forma proporcional, as culturas passariam a ter deficiência hídrica e perderiam produtividade.
“Considerando que as chuvas permaneçam a mesma coisa e que a temperatura aumente de 2 a 4 graus nas próximas décadas, não será possível atender a demanda da soja e do milho”, disse Marinho.
As conseqüências no cenário nacional seriam, segundo o pesquisador, o agravamento da deficiência hídrica no Nordeste e perda de produtividade no cerrado, hoje de agricultura pujante. “A distribuição de chuva no cerrado não é tão boa. O volume é considerável, mas concentrado em quatro ou cinco meses do ano, mas isso pode não ser suficiente para atender a demanda toda".
A boa notícia trazida pela Embrapa é o fato dos pesquisadores da empresa já terem conseguido avanços na adaptação de plantas e grãos a partir de modificações genéticas naturais. Está em desenvolvimento, segundo informou Marinho, uma variedade de soja “mais resistente à seca e apta ao cultivo em regiões onde a disponibilidade de água não é a ideal.”
(O Dia, 10/02/2008)