Ex-prefeito de Bogotá fala de criatividade e mobilização social na CMDC
cidades sustentáveis
2008-02-11
Entre as centenas de palestrantes da Conferência Mundial sobre Desenvolvimento de Cidades, que acontece entre os dias 13 e 16 de fevereiro no Centro de Eventos da PUCRS, em Porto Alegre, está o filósofo e matemático Antanas Mockus ex-prefeito de Bogotá por duas vezes (entre 1991-1993 e 2001- 2003). Suas conquistas e seus métodos chamaram a atenção do mundo. Investindo principalmente em espaços e serviços públicos, e acreditando que administrar é educar, ele enfrentou e minimizou problemas clássicos das capitais latino-americanas: violência, trânsito caótico, habitação e infra-estrutura.
Com soluções criativas e apostando em comunicação visual para conquistar a confiança e o engajamento dos cidadãos, Mockus atingiu números expressivos: a taxa de homicídios na cidade caiu em 70% e acidentes de trânsito fatais caíram em mais de 50%, após cerca de 7.000 grupos de segurança comunitários terem sido formados. Nos serviços básicos, universalizou o acesso à água encanada (a cobertura era de 79% em 1993) e expandiu o esgoto para 95% das casas (71% em 1993).
O cerne da polêmica em seus governos foram ações de seu programa de "cultura cidadã", que mudou a forma de se pensar a segurança. A idéia principal é que a violência tem um forte componente cultural e que para combatê-la é necessário não somente melhorar a polícia, como também atuar nas relações cotidianas das pessoas. Uma de suas iniciativas pouco ortodoxas foi a "Vacinação contra a Violência". Com o objetivo de diminuir a violência doméstica e os maus tratos infantis, convocou mais de 400 psiquiatras e voluntários que atenderam a população em mutirões públicos, encaminhando os casos mais graves para o sistema municipal de saúde.
A contratação de mímicos para chamar a atenção de motoristas infratores e a distribuição de cartões vermelhos e verdes para a interação entre os motoristas, foram instrumentos de uma campanha de educação no trânsito que vai ao encontro da sua teoria de que a melhor forma de vigilância é a social.
O "Dia das Mulheres" (data em que os homens são incentivados a ficar em casa enquanto as mulheres passeiam), a criação de ciclovias que passam por dentro dos condomínios particulares, os rodízios para carros e o investimento no transporte público foram formas de incentivar a segurança através da utilização dos espaços e serviços da cidade, principalmente pelos mais pobres.
A posição do ex-prefeito sobre impostos também é pouco comum e trouxe bons resultados. Defendendo impostos redistributivos, que devem priorizar habitação e transporte público, criou uma taxa de 25% para gasolina, que é investida no sistema de ônibus, e na manutenção viária, incluindo as calçadas.
As obras nas áreas mais ricas da cidade eram custeadas pelos próprios moradores e, mesmo assim, quando ele pediu que a população pagasse voluntariamente 10% extra de IPTU, mais de 65 mil pessoas colaboraram permitindo que a arrecadação quase quadruplicasse em menos de 10 anos.
Para falar destas e outras experiências Antanas Mockus é um dos conferencistas da Mesa de Abertura Governança e democracia em cidades: experiências de participação democrática, no dia 14 de fevereiro, a partir das 9h da manhã. Ele também é um dos palestrantes do Seminário Internacional Experiências de Prevenção da Violência nas Cidades, evento paralelo à Conferência, que se realiza entre os dias 13 e 14 de fevereiro.
* Antanas Mokus já realizou vários trabalhos de pesquisa e projetos relacionados à uma agenda de paz para a sociedade civil. Publicou numerosos artigos sobre educação, cultura, ciência e tecnologia. Atualmente é diretor do Grupo Federici da Faculdade de Ciências da Universidade Nacional da Colômbia, professor convidado de Harvard, Doutor Honoris Causa da Universidade de Paris VIII. É, ainda, diretor da Corporação Visionários pela Colômbia.
(Uffizi Consultoria em Comunicação, Texto recebido por E-mail, 09/02/2008)