O uso difundido de etanol à base de milho poderia resultar em quase o dobro das emissões de gases causadores do efeito estufa em comparação com a gasolina que iria substituir por causa das mudanças na utilização da terra, segundo estudo publicado na revista científica americana Science. O estudo desafia a corrida por biocombustíveis como uma resposta ao aquecimento global.
Pesquisadores afirmam que estudos anteriores mostrando os benefícios do etanol no combate à mudança climática não levaram em consideração certas mudanças no uso da terra no mundo se o etanol feito a partir de milho - e no futuro a partir de outras matérias-primas como a gramínea switchgrass - se tornar uma commodity apreciada. "O uso de boas terras para a expansão dos biocombustíveis provavelmente irá intensificar o aquecimento global", conclui o estudo.
Segundo os pesquisadores, os produtores sob pressão econômica para produzir biocombustíveis irão usar cada vez mais áreas de floresta e pastos, liberando muito do carbono anteriormente armazenado nas plantas e solos através de decomposição ou queimadas. Em um nível global, mais áreas de pasto e floresta serão convertidas ao cultivo de lavouras para substituir a perda de grãos quando os produtores dos Estados Unidos converterem terras para os biocombustíveis, afirma o estudo. A Associação de Combustíveis Renováveis, que representa produtores de etanol, classificou a visão dos pesquisadores sobre o uso de terras como "simplista" e afirmou que o estudo "falha em colocar a questão em contexto."
O presidente norte-americano, George W. Bush, assinou em dezembro a Energy Bill, que determina uma elevação para 36 bilhões de galões no uso de biocombustíveis até 2022, com o objetivo de diminuir a dependência dos Estados Unidos do petróleo estrangeiro. Segundo o estudo, levando em consideração prováveis mudanças no uso da terra no mundo, o etanol de milho poderia aumentar a emissão de gases causadores do efeito estufa em 93% em comparação com a gasolina em um período de 30 anos. O biocombustível produzido a partir de switchgrass, se substituir pastos e outras terras que absorvem carbono, resultaria em uma elevação de 50% nas emissões de gases do efeito estufa. O estudo diz, no entanto, que nem todo tipo de etanol geraria mudanças na utilização da terra.
"Devemos focar no uso de biocombustíveis a partir de produtos que são descartados, como lixo, o que não resultaria em mudanças no uso de áreas agrícolas", afirmou Tim Searchinger, pesquisador da Woodrow Wilson School of Public and International Affairs da Princeton University e autor líder do estudo. "É preciso ter cuidado com a quantidade exigida. Use os biocombustíveis certos, mas não exija muito em um período rápido. Atualmente estamos produzindo combustíveis errados quase que exclusivamente."
(Jornal NH/ AE, 11/02/2008)