O café arábica, cultivado comumente em terrenos mais altos em São Paulo e no sul de Minas Gerais, com mais qualidade e melhor valor de mercado, é uma das culturas nacionais mais sujeitas aos impactos do aquecimento global. A previsão foi feita pelo climatologista do Instituto Nacional de Pesquisas (Inpe) Carlos Nobre, em entrevista à Agência Brasil.
“Com 3 a 4 graus de aumento da temperatura média, o café arábica praticamente desparece de São Paulo e do sul de Minas. Só algumas regiões serranas muito altas teriam clima adequado ao cultivo e a adaptação genética será muito difícil. O café teria que migrar para o sul do Brasil, da Argentina e do Uruguai”, explicou o especialista.
O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Fábio Marinho confirmou que estudos sobre o café estão em fase final e a perspectiva é de "redução drástica" da produção em São Paulo e em Minas Gerais.
Dados do Conselho Nacional do Café (CNC) indicam que o país deve colher de 18 a 20 milhões de sacas de café arábica na safra 2007/2008, o que indica um redução entre 30% a 50% em relação à safra a anterior, de 32 milhões de sacas, influenciada por efeitos um período de seca prolongada, aumento dos custos de produção e queda do dólar.
O estudo foi realizado com 20 cooperativas de Minas Gerais e São Paulo, que reúnem 65 mil produtores e cultivam em torno de 40% da produção nacional.
Se for considerada uma agricultura estagnada do ponto de vista tecnológico, Nobre vislumbra que o milho, a soja, o feijão e o arroz também perderiam em produtividade com as temperaturas mais altas. Entretanto, ele ressalvou que a Embrapa, a Universidade Federal de Viçosa (UFV) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) já se dedicam a estudos no sentido de tornar as variedades agrícolas mais resistentes à temperatura e a períodos de seca.
“Os grãos são originários de temperaturas mais amenas, de latitudes médias. A pesquisa tem que avançar muito nessa direção de buscar a melhor adaptação possível apara a agricultura do futuro”, disse Nobre.
(Por Marco Antônio Soalheiro, Agência Brasil, 10/02/2008)