Na El Amanhecer, na Avenida Sarandi, o repórter de Zero Hora identificou-se como um familiar de produtores interessados na compra de agrotóxico e perguntou sobre a possibilidade de entrega do produto em Santo Ângelo. Confira como foi a conversa com o vendedor uruguaio, que fala português:

Zero Hora - Gostaria de ver o preço de três produtos: Ally, Opera e Fipronil. Vocês têm?

Vendedor - Opera aqui se chama Alegro. Custa R$ 66 o litro. Fipronil sai R$ 190 o litro. O Herbex (nome do similar do Ally) está R$ 90 o quilo.

ZH - Mas não pode levar, né?

Vendedor - Tem que levar escondido.

ZH - E vocês não conseguem alguém para levar?

Vendedor - Podemos arrumar.

ZH - Quanto é?

Vendedor - O freteiro cobra R$ 6,50 por litro, mas o mínimo são 100 litros.

ZH - Consegue entregar em Santo Ângelo?

Vendedor - Todo lugar onde tem (fala o nome de duas transportadoras) ele leva.

ZH - Pode me dar o telefone do freteiro?

Vendedor - Por telefone, o freteiro não fala. Tem muito risco. Ele não sabe quem está do outro lado da linha.

ZH - Como funciona então?

Vendedor - O risco da viagem é dele. O risco da mercadoria é teu. Tu paga aqui. Ele te entrega lá. Se ele cair preso, ele assume todo o risco. A mercadoria tu perde. É o risco que todo mundo corre. A vantagem é que vocês não vão precisar responder processo.

ZH - Eu tenho que pagar antes para vocês?

Vendedor - Isso. Ele demora de três a quatro dias para te levar. Não tem dia fixo. Ele sai quando pode. Tu precisa tratar com ele onde é, quem vai receber e qual o endereço. Porque isso sai tudo com nota.

ZH - Com nota?

Vendedor - Sim, ele vai levar como se fosse mel. Não pode colocar na nota que é produto agrícola, senão dá muita bandeira. Se parar numa blitz, cai preso. Ele coloca em tonéis junto com outras mercadorias. É uma coisa meticulosa. Tem que fazer bem direitinho, se não a gente vai preso. Pode ficar tranqüilo que ele assume todo o risco se for preso.

ZH - Mas a polícia não pára essas transportadoras?

Vendedor - Param, mas graças a Deus, até agora não deu problema. Como todo contrabando, é coisa de risco. Pode passar 20 (cargas) e perder uma. No contrabando tu tá propenso a qualquer coisa.

ZH - Me dá um cartão de vocês?

Vendedor - Claro, temos um celular do Brasil.

ZH - É melhor pagar alguém para transportar do que levar de carro, não é?

Vendedor - Sim, toda vida.

(ZH, 10/02/2008)