O deslizamento de terras, comum durante épocas chuvosas em bairros e invasões que surgem nas encostas de municípios brasileiros, é um problema mais preocupante do que as enchentes. A afirmação é do assessor técnico da Secretaria Nacional de Programas Urbanos do Ministério das Cidades, Leonardo Ferreira.
“Os dados que nós temos apontam muito mais mortes em acidentes com deslizamentos do que com inundações. O deslizamento é muito mais violento, menos previsível e quando ele acontece temos muitas vítimas. Nas enchentes poderíamos destacar mais a perda material.”
De acordo com as informações do Ministério das Cidades, o estado atingido com mais gravidade por desmoronamentos é o Rio de Janeiro. Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Pernambuco e Santa Catarina também registram problemas dessa natureza.
O surgimento de ocupações irregulares aumenta a possibilidade de deslizamentos de terras. Entre os problemas estão a falta de técnicas adequadas para as construções e o plantio de espécies prejudiciais ao solo de áreas elevadas, como é o caso da bananeira, que acumula água em excesso. Segundo Ferreira, áreas que poderiam resistir à chuva são fragilizadas pelo mau uso do solo.
“A ocupação [de morros e encostas] cataliza o problema do deslizamento. Talvez uma área que não tenha habitação seja frágil perante um evento como a chuva. Então, o solo é saturado e escorrega. Mas quando se tem habitação, além de começar a existir risco para as pessoas, a área fica mais frágil ainda. Talvez aquela área sozinha não fosse escorregar, mas quando existe a ocupação [isso pode acontecer].”
Em decorrência da forte chuva na região serrana fluminense, pelo menos nove pessoas morreram em deslizamentos no município de Petrópolis no início da semana e centenas de famílias ficaram desabrigadas.
A página da Secretaria Nacional de Defesa Civil na internet informa que os desastres atingem sobretudo as populações mais pobres e comprometem investimentos governamentais.
“Os desastres aumentam significativamente a dívida social, visto que as pessoas de menor poder aquisitivo são a imensa maioria das vítimas dos desastres, por estarem em áreas de riscos e muitas vezes não terem a percepção global de riscos. Além desse agravante, as ações de resposta aos desastres desviam escassos recursos financeiros de projetos produtivos que geram renda e emprego”, aponta texto do site.
Confira alguma medidas sugeridas pela Defesa Civil para diminuir os riscos de deslizamento:
Preservar a vegetação das encostas;
consertar os vazamentos o mais rápido possível e não deixar a água escorrendo pelo chão. O ideal é a construção de canaletas;
juntar o lixo em depósitos para o dia da coleta e não deixá-lo entulhado no morro;
não acumular sujeira em lugares inclinados porque entopem a saída de água e desestabilizam os terrenos provocando deslizamentos;
não jogar lixo em vias públicas ou barreiras, pois ele aumenta o peso e o perigo de deslizamento;
as barreiras em morros devem ser protegidas por drenagem de calhas e canaletas para escoamento da água da chuva;
não cortar os terrenos de encostas sem licença da prefeitura, para evitar o agravamento da declividade;
solicitar à Defesa Civil, em caso de morros e encostas, a colocação de lonas plásticas nas barreiras;
proteger as barreiras com vegetação que tenha raízes compridas, gramas e capins que sustentam mais a terra.
(Por Hugo Costa e Mariana Jungmann, Agência Brasil, 08/02/2008)