Tipo de trabalho: Tese de Doutorado
Instituição: Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP)
Ano: 2006
Autor: Fernando Campanhã Bechara
Contato: fernandobechara@yahoo.com.br
Resumo:
Refazer ecossistemas de forma artificial representa um desafio de iniciar um processo de sucessão o mais semelhante possível aos processos naturais. A recuperação ambiental tem se baseado no modelo da silvicultura tradicional, plantandose árvores sob espaçamento 3 x 2 m, em área total, com altos insumos de implantação/manutenção, e gerando-se bosques desenvolvidos em altura, porém com baixa diversidade de formas de vida e regeneração. Técnicas nucleadoras de restauração formam microhabitats em núcleos propícios para a chegada de uma série de espécies de todas as formas de vida, que num processo de aceleração sucessional, irradiam diversidade por toda a área. As técnicas foram implantadas em áreas piloto de um hectare, denominadas “Unidades Demonstrativas” (UDs). As UDs foram montadas em Floresta Estacional Semidecidual (Capão Bonito-SP), Cerrado (Santa Rita do Passa Quatro-SP) e Restinga (Florianópolis-SC). Na primeira UD, com um ano de idade, as técnicas nucleadoras introduziram 1.603 mudas de 148 espécies nativas, dentre 84 espécies arbóreas (883 mudas), 12 arbustivas (124 mudas), 30 herbáceas (242 mudas), 20 trepadeiras (260 mudas) e 2 bromeliáceas (3 mudas), além de 94 mudas de hábito indeterminado. Entre as espécies, ocorreram 69 zoocóricas, 32 autocóricas e 29 anemocóricas, além de 21 plantas indeterminadas. Desconsiderando-se as 47 espécies arbóreas implantadas por mudas, houve introdução de: 25% de arbóreas, 8% de arbustos, 20% de ervas, 14% de lianas e 1% de bromeliáceas. Na UD de Cerrado, apesar de impactada por gado, aos dois anos de idade, foram introduzidos 354 indivíduos de 31 espécies nativas. Destas, 39% foram espécies arbóreas, 13% arbustivas, 16% herbáceas, 16% lianas e 16% indeterminadas. Foram registradas 35% de espécies zoocóricas, 29% de anemocóricas, 19% de autocóricas e 16% de plantas com síndrome indeterminada. Na UD de Restinga, foram detectadas, aos dois anos e meio de idade, 180 espécies de 108 gêneros e 55 famílias. As técnicas nucleadoras resultaram num custo experimental estimado em torno de 34% mais barato em relação ao modelo tradicional que varia em torno de R$ 5.500,00 reais/ha. O uso da nucleação aumentou nitidamente a eficiência da restauração ecológica. Foi restituída a diversidade, não só em seu aspecto estrutural, mas considerando-se também os diferentes nichos, formas e funções, formando um mosaico de ambientes e permitindo uma maior dinâmica das comunidades. No atual estágio de conhecimento, é importante a definição de qual paradigma almejamos para a restauração de nossas florestas: cultivar plantações de árvores nativas ou permitir e acelerar a sucessão natural? O novo paradigma das técnicas nucleadoras, ao contrário dos modelos tradicionais de recuperação que apenas satisfazem exigências legais, promovem a restituição de produtores, consumidores e decompositores, gerando a conservação efetiva dos ecossistemas, e assumindo, desta forma, um compromisso ético com as futuras gerações.