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desmatamento da amazônia amazônia
2008-02-08
Há recursos para investimentos, mas faltam mais projetos e assistência técnica

O boom econômico que vem do manejo sustentável das riquezas da floresta, tanto no seringal Cachoeira quanto em outras áreas extrativistas da Reserva Chico Mendes, está definitivamente animando as pessoas e fazendo circular mais dinheiro nas praças de Xapuri, Brasiléia e outras localidades menores da região do Vale do Acre.

"Percebo que a população está bastante animada.  A gente vê o otimismo nos olhos das pessoas", diz o gerente do Banco do Brasil de Xapuri, Fernando de Oliveira Júnior, ao revelar que só no município, nos últimos três anos, a instituição investiu mais de R$ 3 milhões em empréstimos para pessoas jurídicas, que buscam o dinheiro principalmente para capital de giro, aquele a que os empresários mais recorrem para ampliar suas atividades.  O BB também está investindo em projetos sustentáveis de produção de borracha, de castanha, de madeira, de animais silvestres e até de ecoturismo, devido ao potencial que a região de floresta representa para o país e o mundo.

No caso dos empréstimos de Xapuri, há um detalhe importante que o gerente revela em primeira mão: o percentual de inadimplência nos pagamentos dos empréstimos de sua agência tem sido zero, contra a média de 3% registrada nacionalmente pelo banco.  "É quase inacreditável, mas nossa taxa de inadimplência com relação aos empréstimos em Xapuri é zero.  Isso significa que as pessoas estão acreditando no potencial econômico da região e os empresários, passando a investir mais no município", relata o gerente do BB.  Segundo ele, os dois investimentos fortes no município (fábricas de camisinha e de tacos) "estão fazendo as pessoas acreditarem mais no futuro e podem ser a redenção econômica da região".

Só a fábrica de camisinhas, que custou R$ 30 milhões ao governo federal, em parceria com o governo do Estado, está comprando a R$ 3,40 o quilo da borracha seca produzida por 700 famílias de seringueiros da reserva extrativista Chico Mendes.  No auge do funcionamento, a fábrica vai gerar 150 empregos diretos, consumir 500 toneladas de látex in natura por ano e produzir anualmente 100 milhões de preservativos, reduzindo a necessidade de importação quase total que o país tem hoje em relação a esse produto.

Por sua vez, a fábrica de tacos e decks, que custou cerca de R$ 35 milhões, financiados pelo governo do Estado junto ao BNDES, também vai gerar cerca de 150 empregos diretos e consumirá, preferencialmente, a produção comunitária de madeira manejada por mais de 600 seringueiros da Reserva Extrativista Chico Mendes, inclusive no Cachoeira.

O gerente do Banco do Brasil revela que há seringueiros hoje procurando o banco para abrir conta corrente e saber das linhas de crédito que a instituição oferece por meio de seu programa de Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS).  O BB também está trabalhando com recursos do Programa de Agricultura Familiar (Pronaf) no âmbito da fábrica de camisinhas e de tacos.

Para o gerente, dinheiro para ampliar a economia da região não é problema, mas o que falta ainda são projetos e assistência técnica.  "Dinheiro não falta no Banco do Brasil.  Aqui em Xapuri, sobra dinheiro.  O que falta são projetos e assistência técnica", diz ele, ao revelar que só de recursos para assentamento de produtores rurais nos projetos do Incra existe hoje uma oferta de mais de R$ 4 milhões.

Aposta na floresta
"O que se vê hoje no seringal Cachoeira é o início do quarto ciclo econômico da Amazônia, que é o do desenvolvimento sustentável", diz o historiador Marcos Vinicius das Neves, presidente da Fundação Cultural Garibaldi Brasil, de Rio Branco, fazendo fé para que a nova fase, que implica a manutenção e valorização da floresta, não perca espaço para a pecuária, que ainda é, segundo o historiador, muito forte tanto no Acre quanto no resto da Amazônia.

O historiador explica que o quarto ciclo econômico da região de maior floresta tropical do planeta sucedeu o ciclo da pecuária, iniciado na década de 1970, quando, com a ajuda dos governos federal e estaduais e dinheiro do Banco do Amazônia, essa atividade quase sufocou o extrativismo da borracha, que hoje é ainda a base mais forte do manejo de uso múltiplo florestal que inicia o quarto ciclo presente no seringal Cachoeira.  O segundo ciclo econômico, segundo Marcos Vinicius, deu-se durante a II Guerra Mundial, que permitiu fortalecer o extrativismo da borracha para ele enfrentar e conseguir sair vivo do massacre da pecuária em cima dos seringueiros e da floresta.  O primeiro ciclo econômico da região remonta à época da Revolução Industrial, quando a borracha surgiu como âncora para a diversificação e o consumo dos produtos no mundo.

Para o ex-governador Jorge Viana, em cujo governo de oito anos se valorizaram a borracha, a castanha, a madeira e se conceberam justamente projetos estratégicos para o quarto ciclo econômico que se inicia agora na Amazônia, "os povos da floresta merecem viver esse novo ciclo econômico e social porque foram seus maiores guardiões ao longo da história".  O governador Binho Marques está dando seqüência à estratégia do desenvolvimento sustentável que vem sendo empreendida no Estado de acordo com os ideais de sustentabilidade defendidos por Chico Mendes.

Para idealizar e pôr em prática o propalado conceito de florestania (cidadania na floresta), os governos da Frente Popular do Acre contam com a colaboração direta de outras personalidades de proa da política acreana, como os senadores Tião Viana e Marina Silva (hoje ministra do Meio Ambiente), que demonstram, com muita competência, ao cenário político nacional a importância e a estratégia de desenvolver a Amazônia de forma sustentável para o bem do clima e da humanidade.  "Esperamos que esse quarto ciclo econômico resulte em breve em não termos de derrubar mais nenhuma árvore em nosso Estado e em toda a Amazônia", apregoa Tião Viana, ex-presidente e atual vice-presidente do Senado Federal.  A grande maioria das bancadas federal e estadual do Acre também comunga com os mesmos ideais de sustentabilidade da floresta.

Outra figura de grande importância para o surgimento do novo boom florestal do Estado foi o engenheiro Gilberto Siqueira, que há nove anos planeja e gerencia o crescimento da economia acreana em bases absolutamente sustentáveis.  Como secretário de Planejamento e Gestão, Siqueira e sua apurada equipe de economistas, engenheiros, arquitetos e profissionais de diversas outras áreas vêm fazendo ao longo de todo esse tempo a ponte executiva com Brasília, o Brasil e o mundo para o Acre continuar despontando como principal modelo de desenvolvimento sustentável para toda a Amazônia.

"O início desse quarto ciclo econômico da Amazônia aqui no Acre mostra o potencial efetivo da floresta.  Mostra também que, se houver oportunidades e desenvolvimento tecnológico, a floresta pode gerar muitas riquezas", diz Siqueira.  Para ele, "o desenvolvimento sustentável é um pêndulo que ganha sinergia na medida em que agrega a todos e contempla o passado, o presente e o futuro".

Gilberto Siqueira também faz questão de frisar que os seringueiros e outros povos da floresta entram no quarto ciclo da economia amazônica integrados a um processo industrial novo, que valoriza a floresta.  "Esse processo mostra ao Brasil, que sempre desprezou a floresta, que é possível fazer uma economia forte, limpa, saudável, que pode incluir produtos de futuro, como são os fármacos", completa.  Além da biotecnologia, o secretário também aposta no biomimetismo, que são as diferentes formas da natureza, onde se pode, por exemplo, segundo ele, "desenhar um grande avião copiando a anatomia de um grande inseto da floresta".

Ideais de Chico Mendes
Pelo que vimos na presente reportagem, a semente do quarto ciclo econômico da Amazônia está definitivamente instalada na terra de Chico Mendes e ela foi plantada exatamente da forma pela qual o ecologista tanto lutou e sonhou: incluindo o seu povo da floresta.

"O Chico ingressou na luta para mudar a situação do homem da floresta", diz o seringueiro Duda Mendes, o personagem que foi aleatoriamente escolhido para que, conhecendo sua casa, bebendo a água limpa da floresta no bebedouro elétrico de sua cozinha e conversando algumas horas em sua varanda, pudéssemos reportar a quantas andam, de fato, os verdadeiros e seculares guardiões da floresta, que o mundo quer e tanto precisa ver conservada para o bem das futuras gerações e da vida na Terra.

Para nossa surpresa, pudemos constatar que Duda e seus companheiros vão bem, pois estão totalmente incluídos num processo industrial novo e revolucionário, que contempla, talvez pela primeira vez na história do mundo, a floresta como principal aliada do avanço da humanidade, que sempre precisou de um abrigo para se proteger das intempéries do clima e de uma sombra para avistar melhor seus horizontes no tempo.

No Acre, além de sombra, a floresta está mostrando que, se for bem tratada, pode dar borracha, castanha, madeira, frutas deliciosas, água, remédios, adornos, cosméticos e até paz, muita paz, para quem se dispõe a caminhar por dentro dela para sentir de perto a energia vital de bilhões de seres que nela habitam, voam, rastejam, escalam, gritam, cantam e encantam.

Hoje, a inclusão dos povos da floresta está sendo possível graças à instalação de fábricas de camisinha, de tacos, de móveis, de frango (em construção em Brasiléia) e de móveis de luxo de bambu ou taboca (em início de operação em Assis Brasil), além de muitas pousadas ecológicas que vêm sendo construídas na região para receber turistas do mundo inteiro.  São turistas que descerão os Andes peruanos pela Rodovia do Pacífico ávidos por dormir, comer e caminhar dentro da maior e mais rica floresta tropical do globo.  No futuro, quem sabe, os povos da floresta podem até ser chamados ao mundo para dar aulas de simplicidade, de solidariedade e de viver em harmonia com a natureza.

(Por Romerito Aquino, Agência de Notícias Kaxiana / Amazonia.org, 07/02/2008)

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