Sócios estrangeiros da Petrobras estimam reservas de até 30 bilhões de barris
Empresa brasileira havia anunciado expectativa de 8 bilhões de barris; ação da estatal sobe 3,3% com as novas estimativas
A produção de petróleo do megacampo de Tupi, na bacia de Santos, pode ser muito maior do que a anunciada. Sócia da Petrobras no projeto, a britânica BG informou ontem, em nota, que as reservas de petróleo e gás do campo, localizado na bacia de Santos, têm potencial para atingir de 12 bilhões a 30 bilhões de barris.
Antes, a BG estimava as reservas entre 1,7 bilhão e 10 bilhões. A nova estimativa da BG, que tem 25% do campo, supera as projeções iniciais da Petrobras, que apontavam para um reservatório de 5 bilhões a 8 bilhões de barris. As previsões da petroleira britânica foram confirmadas pela portuguesa Galp, também sócia do empreendimento, em comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários de Portugal. A Galp tem uma participação de 10% no projeto.
Ao todo, as reservas da Petrobras no Brasil chegam a 13,9 bilhões de barris. Ou seja, se a estimativa de BG e Galp estiver correta, Tupi tem potencial para até dobrar o volume de óleo e gás que poderá ser extraído do subsolo brasileiro.
O anúncio mexeu com os papéis da Petrobras. As ações ordinárias da petroleira brasileira tiveram alta de 3,31% ontem, num dia em que a Bovespa fechou estável (-0,01%).
Procurada ontem, a Petrobras informou apenas que ninguém da empresa iria comentar o conteúdo dos comunicados das suas sócias em Tupi.
A estatal brasileira é responsável pela operação do campo. Ou seja, fica a cargo da companhia desenvolver todos os projetos de perfuração de poços e de sistemas de produção (plataformas).
A discrepância das estimativas da Petrobras e de suas sócias pode ser explicada por uma diferença de critério adotado. A estatal divulgou o volume de óleo recuperável, ou seja, possível de ser extraído do subsolo. Já as companhias européias anunciaram o volume total que existe sob o mar, que, em geral, não pode ser totalmente extraído.
Maior descoberta da história da estatal, o campo está localizado na chamada camada pré-sal, nova e promissora fronteira exploratória do subsolo marinho brasileiro. A área se estende ao longo dos litorais dos Estados de Santa Catarina ao Espírito Santo (bacias de Santos, Campos e Espíritos Santo). Fica abaixo de uma espessa camada de sal -sobre ela se concentrava até agora a exploração de petróleo no Brasil.
Quando anunciou o tamanho estimado da descoberta de Tupi, em novembro do ano passado, a Petrobras informou que a descoberta colocava "o Brasil como uma das mais importantes áreas petrolíferas do mundo". A estatal foi a única empresa do mundo a perfurar rochas na camada pré-sal.
Para estimar a reserva de até 8 bilhões de barris de Tupi, a estatal perfurou e testou oito poços, analisando a qualidade e a quantidade do óleo (leve, de 28 graus).
Com o objetivo de dimensionar a descoberta, a estatal programou para o segundo semestre deste ano um teste de produção de longa duração, com uma pequena plataforma alugada provisoriamente e capaz de extrair até 40 mil barris/dia.
Ao final de 2010, a empresa espera alugar um sistema de produção de médio porte com capacidade de 100 mil barris/ dia, que irá operar no campo até que a plataforma definitiva fique pronta em 2013, quando a expectativa é atingir uma produção de 180 mil barris/dia.
Em todas as perfurações realizadas na camada pré-sal, a estatal encontrou petróleo. No mês passado, anunciou uma grande descoberta de gás vizinha ao campo de Tupi. Em entrevista recente, o diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrella, ressaltou que o sucesso exploratório nessa nova fronteira petrolífera era de 100%.
Por esse motivo, o executivo defendeu a revisão do modelo de concessões, a fim de a União se apropriar de uma fatia maior das reservas. Sugeriu os mecanismos usados no Oriente médio, como os de produção compartilhada (onde parte fica com o Estado) e de prestação de serviços, pelo qual uma empresa é contratada para explorar o campo e é remunerada pela empreitada.
(Pedro Soares, Folha de São Paulo, 08/02/2008)