Com uma frota de cerca de seis milhões de veículos, São Paulo não teve muito o que comemorar no seu 454º aniversário com relação a qualidade do ar que seus habitantes respiram. Uma pesquisa recente realizada pelo Laboratório de Emissão Veicular da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) mostrou que o nível de partículas inaláveis por veículos automotores na cidade está muito acima do que o recomendável. Habitantes de São Paulo vivem em média um ano e meio a menos do que pessoas que moram em cidades de ar mais limpo.
Para o engenheiro e pesquisador da USP, Moacir Ferreira da Silva, o problema é uma questão de saúde pública e exige que sejam feitas mudanças na legislação para que haja um controle mais rigoroso das emissões de veículos. "Partículas sólidas menores que 10 micrômetros (ou seja, 0,0001 centímetros) são potencialmente perigosas porque penetram e se alojam no sistema respiratório. Atualmente elas representam 65% das emissões veiculares.", afirma o pesquisador.
Pesquisas do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da USP apontam a poluição atmosférica está relacionada a cerca de 10% das mortes de idosos, 7% da mortandade infantil e de 15 a 20% das internações de crianças por doenças respiratórias.
De acordo com o Relatório de Qualidade do Ar no Estado de São Paulo de 2006, realizado pela CETESB, os veículos automotores na Região Metropolitana representam 98% das emissões de monóxido de carbono, 93% de hidrocarbonetos, 96% de óxidos de nitrogênio, 35% de óxido de enxofre e 40% de material particulado. Apesar dos números alarmantes, regulação no Brasil só existe para veículos movidos a óleo diesel e, assim mesmo, corre o risco de ser descumprida.
O Movimento Nossa São Paulo: Outra Cidade foi responsável por chamar a atenção para o problema do alto teor de enxofre no diesel brasileiro durante a campanha para o Dia Mundial Sem Carro, em 22 de setembro do ano passado. As quase 400 organizações que o integram assinaram uma representação no Ministério Público para que a resolução 315/2002 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) não sofra alterações nem adiamentos.
“A ANP empurrou esta história com a barriga e pressionaram o MMA para mudar porque por trás deles estão os patrocinadores da campanha”, diz Oded Grajew, presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos e integrante do Movimento.
O diesel comercializado no País deveria apresentar uma concentração máxima de 50 partes por milhão (ppm) de enxofre a partir de 2009, conforme os atuais padrões europeus. O corte foi definido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) em 2002, como parte do programa de controle da poluição do ar.
O enxofre é uma substância altamente cancerígena e que mata todos os anos, só em São Paulo, 3 mil pessoas.
Em audiência pública realizada em dezembro do ano passado, o assessor da diretoria-geral da Agência Nacional de Petróleo (ANP), Waldyr Luiz Gallo, enfatizou que "não existe combustível limpo" e que há problemas na comercialização do combustível, como a capacidade de produção, as dificuldades de logística, a contaminação no transporte e o custo adicional. "A ANP não pode obrigar os postos a venderem o diesel 50ppm. Isso é uma decisão de cada proprietário", concluiu.
(Por Paula Scheidt, CarbonoBrasil, 25/01/2008)