As medidas do
governo de repressão ao desmatamento devem valorizar ainda mais as áreas
desmatadas e, de acordo com os corretores, há risco de que estimulem a
depredação da floresta. "Sei de pessoas que vão esperar passar o inverno
(período de chuva) para queimar o mato", disse uma corretora de Canarana
que não quis ser identificada. "Podem alegar que o incêndio foi acidental,
pois tem época que queima tudo por aqui."
Silva vendeu a
fazenda por R$ 2,5 milhões e comprou um hotel em Canarana. "Se tivesse
menos mata, valeria muito mais", disse. Como uma parte tinha muita madeira
boa, pensou em fazer um plano de manejo, mas desistiu diante da burocracia.
Há alguns anos,
entendia-se que a mata do norte de Mato Grosso era área de transição do cerrado
para a floresta, onde se podia desmatar 50%. Hoje, mesmo no cerrado, essa área
é de 35%.
A soja e a
pecuária já pressionam os limites do parque indígena. Cerca de 30% do maciço
florestal do entorno, equivalentes a 5 milhões de hectares, foram desmatados até
o final de 2005, durante o avanço da fronteira agrícola, conforme dados do
Instituto Socioambiental (ISA). O parque e seu entorno abrigam 18 povos
indígenas, e a ocupação ameaça rios e nascentes que formam as cabeceiras do
Xingu, um dos principais tributários do Amazonas.
Dos 19 municípios
que mais desmatam no Estado, seis estão em volta da unidade de conservação:
Gaúcha do Norte, Marcelândia, Nova Ubiratã, Peixoto de Azevedo, Querência e São
Félix do Araguaia. Além das fronteiras leste e sul, a pecuária e a soja abriram
novas frentes no oeste do parque.
Em 2004, o ISA
lançou uma campanha de conscientização. De acordo com o ambientalista Oswaldo
Braga de Souza, os produtores estão sendo convencidos a adotar práticas de
manejo que controlam a erosão e melhoram a fertilidade do solo, como o plantio
direto.
(24 Horas News/O Estado de São Paulo, 06/02/2008)