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desmatamento da amazônia mercado imobiliário parque nacional do xingu
2008-02-07
Um alqueire paulista (2,42 hectares) com matas no entorno do Parque do Xingu, a nova fronteira agrícola de Mato Grosso, vale de R$ 1.200 a R$ 1.400. Se a terra estiver desmatada para plantio, o preço triplica, vai de R$ 3.500 a R$ 4.500, segundo agentes imobiliários da região consultados pelo jornal Estado de São Paulo.

As medidas do governo de repressão ao desmatamento devem valorizar ainda mais as áreas desmatadas e, de acordo com os corretores, há risco de que estimulem a depredação da floresta. "Sei de pessoas que vão esperar passar o inverno (período de chuva) para queimar o mato", disse uma corretora de Canarana que não quis ser identificada. "Podem alegar que o incêndio foi acidental, pois tem época que queima tudo por aqui."

José Agripino da Silva, de 66 anos, comprou uma fazenda com 2.065 hectares perto do Xingu, em Gaúcha do Norte. Nos 726 hectares de campo, formou pasto e pôs gado. "Comprei achando que poderia abrir 50% da área, mas quando procurei a Secretaria do Meio Ambiente para autorizar o desmate de 400 hectares, me disseram que o máximo era 20% e eu já tinha passado a cota."

Silva vendeu a fazenda por R$ 2,5 milhões e comprou um hotel em Canarana. "Se tivesse menos mata, valeria muito mais", disse. Como uma parte tinha muita madeira boa, pensou em fazer um plano de manejo, mas desistiu diante da burocracia.

Há alguns anos, entendia-se que a mata do norte de Mato Grosso era área de transição do cerrado para a floresta, onde se podia desmatar 50%. Hoje, mesmo no cerrado, essa área é de 35%.

A soja e a pecuária já pressionam os limites do parque indígena. Cerca de 30% do maciço florestal do entorno, equivalentes a 5 milhões de hectares, foram desmatados até o final de 2005, durante o avanço da fronteira agrícola, conforme dados do Instituto Socioambiental (ISA). O parque e seu entorno abrigam 18 povos indígenas, e a ocupação ameaça rios e nascentes que formam as cabeceiras do Xingu, um dos principais tributários do Amazonas.

Dos 19 municípios que mais desmatam no Estado, seis estão em volta da unidade de conservação: Gaúcha do Norte, Marcelândia, Nova Ubiratã, Peixoto de Azevedo, Querência e São Félix do Araguaia. Além das fronteiras leste e sul, a pecuária e a soja abriram novas frentes no oeste do parque.

Em 2004, o ISA lançou uma campanha de conscientização. De acordo com o ambientalista Oswaldo Braga de Souza, os produtores estão sendo convencidos a adotar práticas de manejo que controlam a erosão e melhoram a fertilidade do solo, como o plantio direto.

(24 Horas News/O Estado de São Paulo, 06/02/2008)


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