Entrada pontualmente às 8h. Pausa para o almoço às 11h30. Retorno ao trabalho às 13h30. Fim do expediente às 16h.
A rotina é parecida com a de outras fábricas pelo Brasil, mas a diferença é que os trabalhadores que prestam serviço para o Instituto da Terra não voltam para casa no fim do turno.
Os "funcionários", que fazem produtos com materiais recicláveis, como papel, garrafas PET e retalhos de couro, são detentos do Presídio Masculino de Florianópolis.
"Para eles, não existe nada mais importante do que trabalhar, porque é um inferno lá dentro", conta Zuleica Medeiros, 60, arte-educadora e diretora-presidente do Instituto da Terra.
Atualmente, há 300 homens presos, sendo que cem trabalham para o projeto. "O presídio é um local de alta rotatividade. Toda hora eu perco funcionários extraordinários."
Na verdade, os presos não são, de fato, funcionários de Medeiros. Eles trabalham para a ONG graças a um convênio com o governo de Santa Catarina e recebem um salário, que é encaminhado diretamente para suas famílias.
Logo que começou o trabalho, há oito anos, os detentos só fizeram uma exigência: queriam ser tratados como funcionários de uma empresa normal.
Grandes companhias são clientes do negócio ecológico-social. Por isso não falta rigor nas cobranças de prazos e de qualidade. "Eu não faço assistencialismo, faço negócios", salienta Medeiros.
(Por Igor Giannasi, Folha online, 03/02/2008)