A proliferação de mexilhões dourados ainda preocupa pescadores e ambientalistas, quase dez anos após os primeiros exemplares da espécie exótica terem sido identificados nas águas doces do RS. Responsável por danos econômicos e ambientais, o molusco tem se alastrado no Guaíba e pode ser visto na costa, que acumula conchas nativas sufocadas por milhares de mexilhões.
Os prejuízos causados pelos moluscos atingem pescadores, embarcações, tubulações de captação de água e o próprio ecossistema. Presidente da Colônia de Pescadores Z-5, da Ilha da Pintada, Wilmar Coelho destaca que a proliferação de mexilhões tem alterado a rotina tradicional dos trabalhadores. 'Eles se grudam facilmente na rede de pesca, que muitas vezes não pode mais ser utilizada', relata. Além disso, Coelho destaca a grande mortandade de juncos.
Na costa da localidade de Boa Vista, entre o Lami e Belém Novo, extremo Sul de Porto Alegre, chegam a ser encontrados mais de 80 mexilhões agarrados em apenas uma concha nativa. Calcula-se que em determinados locais, possam ser identificadas concentrações de mais de 40 milhões por m².
Proprietário de um sítio às margens do Guaíba, o vereador Carlos Comassetto chama a atenção para a crescente quantidade de colônias da espécie exótica. 'Como não possui um predador natural, sua proliferação se dá de forma impressionante.' Disposto a mobilizar a sociedade e o poder público para o enfrentamento do problema, Comassetto promete levar o debate à Câmara neste mês. 'Não podemos deixar que esse desequilíbrio ambiental tome maiores proporções. Precisamos de ações públicas conjuntas', defende.
Em 1999, foram identificadas as primeiras colônias nas adutoras de captação de água bruta do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae). Desde então, vem sendo realizadas inspeções e limpezas periódicas por mergulhadores. A raspagem de colônias de moluscos adultos foi uma das alternativas. Para evitar a obstrução de canos e telas nas estações de captação d’água no Guaíba, no verão passado foi testado dióxido de cloro. O químico da Divisão de Tratamento de Água do Dmae, Ilo César Garcia da Silva, destaca que houve resultados satisfatórios e o uso foi ampliado.
(Por Joana Colussi, Correio do Povo, 03/02/2008)