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pesquisa agropecuária riscos climáticos
2008-02-01

Cada vez mais pobres e mais famintos. Muitas das regiões de maior miséria do planeta correm sério risco de enfrentar situações ainda piores nas próximas duas décadas, devido a prejuízos severos na agricultura causados pelas mudanças climáticas. A afirmação é de um estudo publicado na edição de 1º de fevereiro da revista Science.

A pesquisa, feita por cientistas da Universidade de Stanford, do Laboratório Nacional Lawrence Livermore e do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica, todos dos Estados Unidos, destaca que o cenário será mais grave no sul da Ásia e da África.

“A maior parte do 1 bilhão de pobres no mundo depende da agricultura para sobrevivência. Mas, infelizmente, a agricultura é a atividade humana mais vulnerável a mudanças no clima”, disse David Lobell, do Instituto Woods para o Meio Ambiente de Stanford e principal autor do artigo.

Segundo Lobell, o desafio será conhecer onde o que ele chama de “ameaças climáticas” serão mais sentidas, em quais lavouras e em que períodos. “Isso será fundamental para os esforços de combate à fome e à pobreza nas próximas décadas”, disse. Os pesquisadores esperam que o estudo possa ajudar no planejamento futuro nessas regiões em relação a onde e o que plantar.

Na análise, os autores enfocaram 12 regiões em que atualmente reside a maioria das populações mais carentes, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês). Entre elas a África subsaariana, o Caribe, as Américas Central e do Sul e boa parte da Ásia.

Dois fatores que afetam grandemente a agricultura são temperatura e quantidade de chuvas. Para determinar o impacto do aquecimento global na agricultura nas regiões analisadas, os pesquisadores combinaram dados de 20 modelos de mudanças climáticas produzidos anteriormente.

A conclusão foi que, por volta de 2030, a temperatura média na maioria das áreas poderá se elevar em cerca de 1ºC, enquanto a precipitação em algumas delas – incluindo as partes meridionais da Ásia e da África, mais América Central e Brasil – poderá diminuir.

“Para identificar quais plantações de quais regiões estarão mais ameaçadas em 2030, combinamos projeções de alterações climáticas com dados a respeito dos principais alimentos dessas populações, bem como relações anteriores entre colheitas e variabilidade climática”, explicou Lobell.

As análises revelaram dois “hotspots” da fome, onde o impacto climático na agricultura tende a ser mais sentido: no sul da África e da Ásia. “Ficamos surpresos pelo quanto e quão cedo essas regiões poderão sofrer se não se adaptarem”, disse Marshall Burke, outro autor do estudo.

“Por exemplo, nosso estudo indica que a África meridional poderá perder mais de 30% de seu principal produto agrícola, o milho, nas próximas duas décadas, o que teria implicações devastadoras para a região”, destacou.

No sul da Ásia as perdas potenciais também são altamente significativas, com prejuízo projetado de mais de 10% em muitas lavouras, como arroz, milho e milheto (erva da família das gramíneas encontrada na região). “Para uma agricultura praticamente de subsistência tais perdas serão devastadoras”, disse Burke.

O estudo também identificou o contrário, ou seja, regiões que poderão se beneficiar das mudanças climáticas, como áreas temperadas de plantio de trigo na China.

O artigo Prioritizing climate change adaptation needs for food security in 2030, de David Lobell e outros, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org.

(Agência Fapesp, 01/02/2008)


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