A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse nesta quinta-feira (31/01) que não se sentiu desautorizada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que contestou os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgados pelo ministério sobre o desmatamento da Amazônia. A ministra ainda voltou a culpar a pecuária pelo que classificou de "destruição da floresta".
- O que nós identificamos foi um processo irresponsável de destruição da floresta. Se faz o desmatamento predatório tirando de forma irresponsável as árvores nobres. Não é plano de manejo. Aquilo é uma rapina. Depois se ateia fogo de forma criminosa e joga capim - afirmou a ministra.
Segundo a ministra, a atividade de pecuária é responsável por 70% das terras degradadas. Ela prometeu punir os culpados.
- O presidente Lula assinou um decreto que estabelece sérias punições para aqueles que estão desrespeitando a lei e contribuindo para a destruição da Amazônia. De sorte que eu estou autorizada e mandatada para cumprir o decreto e estamos trabalhando com todo o rigor para que ele seja estabelecido.
Pesquisador do Inpe confirma aumento de desmatamento
Uma das principais autoridades brasileiras em clima, o pesquisador Carlos Nobre, do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (Cptec), do Inpe, garantiu nesta quinta que são confiáveis as informações captadas por satélite que mostram que houve aumento do desmatamento na Amazônia, na comparação entre o segundo semestre de 2006 com o mesmo período de 2007:
- O que pode ser dito com segurança, e esses dados foram checados com muito cuidado no último mês, é que os desmatamentos observados pelo satélite no segundo semestre de 2007 são bastante superiores aos observados pelo satélite no segundo semestre de 2006 - confirmou Nobre.
ONGs reagem às provocações feitas por Lula
Ambientalistas reagiram com indignação nesta quinta-feira às críticas do presidente Lula às ONGs que atuam na Amazônia. Quarta-feira, ao reclamar de suposto exagero no anúncio da alta no desmatamento entre agosto e dezembro do ano passado, Lula atacou as ONGs que ligaram o aumento das derrubadas à expansão da fronteira agrícola. Antes de defender o setor agropecuário, ele fez uma provocação a pesquisadores e ativistas:
- Eu topo brigar com essas ONGs por causa disso. Vão plantar árvore no país deles.
O coordenador da campanha Amazônia do Greenpeace, Paulo Adário, acusou Lula de tentar desviar o foco da discussão sobre o futuro da floresta:
- O presidente investe contra as ONGs, mas quem divulgou a alta no desmatamento foi o próprio governo. Plantar árvores na Europa ou nos Estados Unidos não resolve o problema do Brasil.
O diretor da ONG Amigos da Terra, Roberto Smeraldi, afirmou que documentos do próprio governo, como o pacote de ações contra desmatamento anunciado semana passada, apontam a expansão da agropecuária como o principal fator de pressão sobre a floresta:
- Talvez o presidente desconheça os documentos que ele mesmo assinou. Se não são essas as atividades que mais desmatam, é preciso perguntar a ele quem são os culpados - questionou.
Presidente criticou dados divulgados pelo Ministério
Na quarta-feira, Lula disse que não considerava alarmantes os dados registrados por satélites do Inpe , entre agosto e dezembro de 2007, e divulgados na semana passada pela ministra. Sem citar o nome da ministra, ele a desautorizou ao falar a respeito das causas do desmatamento.
- Antes é preciso investigar e verificar o que aconteceu. Agora, eu acho que todo mundo que promoveu queimada ilegal deve receber um duro processo, inclusive com a perda da propriedade pelos infratores - afirmou Lula.
O presidente também criticou a forma como o Ministério anunciou o aumento do desmatamento:
- Você vai no médico detectar que você está com um tumorzinho aqui, ao invés de fazer biópsia e saber como você vai tratar, já saiu dizendo que estava com câncer - disse Lula.
Horas depois, ao voltar de um sobrevôo sobre áreas desmatadas do Mato Grosso, e ainda na quarta-feira, Marina negou que tenha feito alarde sobre os dados e manteve sua versão sobre os responsáveis pela devastação.
- Não se trata de alarde. Trabalhamos com informações do sistema de detecção de desmatamento em tempo real, que foi criado exatamente para nos orientar na fiscalização. Da parte do governo federal, não há nenhum tipo de dúvida. Nós temos a convicção de que é preciso agir com urgência.
A floresta amazônica sofreu, no segundo semestre de 2007, a maior devastação desde que os dados começaram a ser monitorados pelo governo. Os satélites do Inpe detectaram a derrubada de 3.235 quilômetros quadrados de floresta entre agosto e dezembro. Só em Mato Grosso foram devastados 1.786 quilômetros quadrados. As taxas de desmatamento vinham caindo há três anos.
Força-tarefa para conter desmatamento terá 800 agentes
A operação anunciada na semana passada pelo governo para combater o desmatamento na Amazônia contará com cerca de 800 agentes da Polícia Federal, do Ibama, da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e da Polícia Rodoviária Federal. A Operação denominada Arco de Fogo começa em fevereiro e a previsão é que ela seja permanente e não só por um determinado período.
Segundo o delegado-chefe de Crimes Ambientais da Polícia Federal, Álvaro Palharini, a idéia é instalar dez postos móveis de fiscalização nos nove estados da região. O delegado afirmou ainda que, além de frear o desmatamento da floresta, essas ações podem contribuir para inibir outros problemas na região, como a grilagem de terras e a pistolagem.
(O Globo, 01/02/2008)