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desmatamento da amazônia
2008-02-01

O governo federal não tem disposição nem capacidade para conter a devastação da Amazônia, apesar das medidas emergenciais anunciadas na semana passada, segundo especialistas.

O preço elevado dos produtos agrícolas no mercado mundial estimula agropecuaristas a avançarem sobre a Amazônia em busca de terras baratas e desocupadas, de acordo com ambientalistas.

Entre agosto e dezembro de 2007, foram devastados 7.000 quilômetros quadrados de florestas, segundo estimativas do governo, o que representa dois terços da taxa anual.

Em resposta a esses dados, o governo Lula proibiu a extração de madeira em 36 municípios com taxa elevada de desmatamento e também cortou créditos agrícolas para essas localidades.

Anunciou também a proibição do comércio de produtos de áreas desmatadas ilegalmente e o registro obrigatório de todas as propriedades para evitar a ocupação clandestina de terras.

Na quarta-feira, no entanto, enquanto a ministra do Meio Ambiente sobrevoava áreas de floresta desmatadas na região de Mato Grosso, o presidente Lula minimizava a gravidade da situação.

"A notícia é preocupante, mas é como se tivesse uma coceira e achasse que é uma doença mais grave", disse Lula a jornalistas em São Paulo. Segundo o presidente, o Brasil pode reverter esse quadro neste ano.

A ministra, mesmo sob pressão de produtores rurais e agricultores mato-grossenses, disse que os dados apontando aumento da devastação estão corretos. "Vamos agir com sentido de urgência. Neste ano, com maior rigor."

Entre julho de 2005 e julho de 2007, a taxa de desmatamento caiu em 50 por cento, para voltar a subir no semestre passado.

"GOTA NO OCEANO"

Ambientalistas dizem que as novas medidas foram adotadas sem convicção pelo governo, e que algumas podem até aumentar o desmatamento. "É um primeiro passo positivo, mas é só uma gota no oceano", disse Paulo Moutinho, coordenador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

Para Roberto Smeraldi, diretor da ONG Amigos da Terra no Brasil, a aplicação de medidas restritivas onde o desmatamento já ocorreu pode levar madeireiros e agropecuaristas para municípios vizinhos e menos devastados.

"O governo está seguindo o desmatamento em vez de se antecipar a ele. Essas medidas podem jogar lenha na fogueira", disse Smeraldi à Reuters.

Ele lembrou que é a terceira vez em quatro anos que o governo promete regularizar os títulos de propriedade, mas desta vez se concentrando em apenas 36 municípios. "Os madeireiros estão comemorando nas cidades que se livraram - o governo tem um histórico terrível na fiscalização", afirmou.

Paulo Barreto, pesquisador-sênior do instituto Imazon, que promove o desenvolvimento sustentável da floresta, disse que apenas 2 a 3 por cento das multas impostas a madeireiras ilegais são efetivamente pagas.

Críticos dizem que grande parte do governo prefere o desenvolvimento econômico à preservação da Amazônia, e por isso falta apoio a várias das medidas. "Marina é uma voz solitária", disse Barreto.

Enquanto envia mais soldados e cartógrafos para conter a derrubada de árvores, o governo promove o desmatamento na forma de grandes projetos de infra-estrutura e mineração, e também assentando famílias sem-terra na região, segundo Smeraldi.

O projeto de uma hidrelétrica no rio Madeira (RO) poderia atrair até 100 mil colonos para a região. "O governo levanta uma bandeira vermelha com a mão esquerda e derruba árvores com a direita", afirmou Smeraldi.

Lula, os militares e políticos nacionalistas costumam se queixar da interferência estrangeira na Amazônia. O presidente afirmou na quarta-feira que as ONGs (internacionais) "precisam é plantar árvores nos seus países deles".

Na avaliação de especialistas, os fazendeiros vão continuar derrubando árvores para ter espaço para lavouras e pasto enquanto isso for mais barato do que recuperar a área degradada.

"O governo e a agricultura precisam lidar com os problemas econômicos subjacentes ao desmatamento, repensar radicalmente sua abordagem para a Amazônia, mesmo que seja por interesse próprio", disse Moutinho.

(Raymond Colitt, O Globo, 01/02/2008)


 


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