O Exército Brasileiro, com o apoio da Força Aérea Brasileira (FAB), levou ontem o governador Anchieta Júnior (PSDB), diversos parlamentares, secretários estaduais e outras autoridades civis aos pelotões de fronteira de Surucucu e Auaris, localizados a noroeste de Roraima, na reserva yanomami. A bordo de um avião Amazonas C-105, as autoridades tinham a missão de conhecer a realidade dos pelotões e do povo yanomami.
Em Roraima existem seis pelotões de fronteiras: Bonfim, Normandia, Pacaraima, Surucucu, Auaris e Uiramutã. Os dois pelotões visitados são acessíveis apenas por via aérea e estão localizados em áreas de selva, diferente dos demais que estão em regiões de lavrados e possuem caminhos terrestres e fluviais.
A primeira parada foi no 5º Pelotão Especial de Fronteira localizado em Auaris, no Município de Amajari. Os militares que vivem na localidade realizam trabalhos de patrulhamento de fronteira, criam animais e plantam vegetais para sua própria subsistência. As esposas dos militares ministram aulas nas comunidades.
Existem na região 2.328 índios das etnias Yanomami e Y’ekuama que vivem nas 27 aldeias espalhadas pela região. Foi apresentado às autoridades como vivem os militares na região, particularmente suas principais dificuldades e desafios, já que trabalham em uma região fronteiriça e tão longínqua. Eles informaram sobre a infra-estrutura do local, atividades de selva, meios improvisados de sobrevivência e os armamentos utilizados.
A segunda e última parada foi no 4º Pelotão Especial de Fronteira, que fica localizado na região de Surucucu, Município de Alto Alegre. Os militares e seus familiares buscam conviver em paz com a comunidade indígena, mantendo em alerta a fiscalização na fronteira. Os militares também apresentaram às autoridades presentes as condições de trabalho. No local, existem 1.266 índios da etnia Yanomami, espalhados em 17 aldeias.
Para o general Eliéser Girão Monteiro Filho, comandante da 1º Brigada de Infantaria de Selva, essa missão teve por objetivo integrar todas as instituições em defesa da região. "Aqui somamos ao apoio da Força Aérea Brasileira e atuamos engajados promovendo o desenvolvimento e a preservação da Amazônia", afirmou.
Com o mesmo pensamento, o comandante Militar da Amazônia, o general Augusto Heleno Pereira, disse que a missão é importante para que as autoridades do Estado possam conhecer a realidade dos pelotões de fronteira, principalmente no apoio que é dado aos indígenas.
"Temos respeito às tradições e à cultura dos povos. E, ao mesmo tempo, ajudamos os indígenas que ressentem dos confortos da civilização com remédios e água potável, que sempre precisam recorrer aos pelotões", ressaltou.
Conforme o general Heleno, essa comissão teve um significado ainda maior. "Aqui foi apresentada também a ausência do Estado, onde deveriam existir representantes de diferentes órgãos promovendo o desenvolvimento da Amazônia. Aqui só temos mesmo é a presença das Forças Aramadas", advertiu.
Índios pedem melhores condições de vida
Assim que desembarcou em Auaris, o governador Anchieta Júnior foi recebido por lideranças indígenas, que pediram seu apoio para retirar documentos pessoais e até a inclusão do Ensino Médio na escola da comunidade.
De acordo com o líder Rezende Sanaumá, a população yanomami precisa de carteira de identidade, Cadastro de Pessoa Física (CPF), título de eleitor e urna eletrônica para que possam votar nas próximas eleições. Um outro líder, Paulo Sanumá, disse que todos são indígenas, mas que também são brasileiros e que enfrentam dificuldades assim como qualquer outro cidadão. Ele pediu das autoridades "presentes", como telhas, para que possam cobrir suas casas.
O governador Anchieta Júnior, o desembargador Robério Nunes dos Anjos e o representante da Receita Federal, José Silvino Barreiros, se comprometeram em realizar uma força-tarefa em breve para que os yanomami tenham seus pedidos atendidos.
O terceiro e último pedido feito pelos indígenas de Auaris partiu do líder Y’ekuana Marcos Antônio. Ele pediu merenda escolar para os estudantes, argumentando que não recebem há meses e também o Ensino Médio na escola existente na comunidade.
Em reposta à solicitação do líder Y’ekuana, o secretário estadual de Educação, Luciano Moreira, afirmou desconhecer a falta de merenda escolar, já que a merenda é enviada regularmente à Comissão Pró-Yanomami (CCPY), que é a responsável em fazer o repasse. Mas Moreira se comprometeu não só a buscar solução para esse impasse, como também fornecer uma merenda menos enlatada, com mais condições de aproveitamento e também de arrumar meios para que os índios possam produzir suas próprias refeições escolares.
Sobre a possibilidade de incluir o Ensino Médio na escola, o secretário disse que é necessário fazer uma pesquisa antes sobre as necessidades da comunidade. "Vou fazer esse levantamento e enviar ao gabinete do governador para apreciação. Procuraremos atender dentro da medida do possível", afirmou.
Os yanomami de Auaris também reclamaram das ações limitadas do Estado, por determinação do Governo Federal, que, segundo eles, prejudicam principalmente as comunidades mais longínquas.
Quando a comitiva desembarcou em Surucucu, foi imediatamente encaminhada à maloca do conselheiro distrital Paraná Yanomami. Reunido com demais indígenas, ele pediu a construção de uma escola e de um hospital na comunidade.
Como a saúde indígena é de responsabilidade da Fundação Nacional de Saúde (Funasa/RR), a secretária estadual de Saúde, Eugênia Glaucy, afirmou aos indígenas que vai buscar convênios com a instituição responsável para que se possa viabilizar a construção de um hospital e de um atendimento médico mais amplo.
Assim como em Auaris, Luciano Moreira disse ser necessário realizar uma pesquisa para detectar a necessidade dos indígenas. "Vamos saber das necessidades, provavelmente são de alfabetização. Em seguida farei um projeto de educação indígena e encaminharei ao governador", prometeu.
(Por Andrezza Trajano, Folha de Boa Vista, 31/01/2008)