O Brasil dispõe hoje de três sistemas de detecção via satélite para monitorar o ritmo da devastação amazônica. Os dois que enxergam a floresta com mais agilidade, independentemente das margens de erro (ver quadro à. esq.), registram uma aceleração no desmate, tendência que é contestada pelo ministério da Agricultura e pelo governo de Mato Grosso.
"O ponto central é que existe um reaquecimento [do desmate]", afirma Carlos Souza Jr., da ONG Imazon. A instituição paraense é a única no Brasil com um sistema não-governamental, o SAD (Sistema de Alerta do Desmatamento), para observar o estado da floresta amazônica. Esse projeto, porém, funciona apenas no monitoramento de Mato Grosso e do Pará.
Os dados processados pelo Imazon são registrados pelo sensor Modis, no satélite Terra, da Nasa. O mesmo registro alimenta o Deter (Detecção de Áreas Desflorestadas em Tempo Real), do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Ambos usam as mesmas imagens captadas do espaço, mas geram produtos diferentes.
O Inpe -que usa o Deter como sistema de alerta, mas não para obter uma medida precisa de área desmatada- estimou em 7.000 km2 a área alterada na Amazônia entre agosto e dezembro de 2007.
O sistema usado para cálculo efetivo da área desmatada é o Prodes (Projeto de Estimativa de Desflorestamento da Amazônia), mais lento.
"A estimativa do Deter é meramente indicativa de tendência e seu objetivo é orientar os esforços de fiscalização do governo", disse Gilberto Câmara, diretor do Inpe, à Folha.
Segundo ele, a extrapolação divulgada na semana passada é bem confiável. "Esse cálculo é feito com base na proporção entre os números do Prodes e do Deter observada em anos anteriores. Em 2006, esta proporção foi de 60% e em 2007, de 40%. A extrapolação tem como base um histórico".
A margem de erro do Deter é de 20%, segundo o Inpe. É o dobro da estabelecida para o SAD, segundo Souza Jr.
O Prodes -que usa dados dos satélites das famílias CBERS (do Brasil e da China) e Landsat (da Nasa)- divulga números só no segundo semestre, mas indica qual foi a área florestal ceifada com apenas 4% de margem de erro.
"Existem várias questões técnicas que podem levar ao erro. Mas tem também uma questão quase semântica importante", afirma Souza Jr.
Segundo o pesquisador, é fundamental informar ao modelo matemático usado no processamento das imagens o que deve ser visto como floresta e o que precisa ser registrado como área "degradada".
"Em Mato Grosso, às vezes, uma área detectada pelo SAD como degradada não virou ainda pastagem. Para nós [do Imazon] houve perda de biomassa florestal, mas, para a secretaria [do Estado] aquele área ainda não é alterada", disse Souza Jr.
(Eduardo Geraque, Folha de São Paulo, 01/02/2008)