A comitiva de quatro ministros que sobrevoou ontem as áreas do Pará e Mato Grosso onde foram registradas as maiores queimadas na Amazônia voltou assustada da visita. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, admitiu que a situação pode ser pior do que tinha sido informada pelos dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). "Podemos constatar, de fato, que a situação é preocupante", lamentou Marina. O presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Bazileu Margarido, disse que disparou o alerta nos órgãos ambientais. "Acendeu a luz laranja, quase vermelha", admitiu. Um componente da comitiva da ministra classificou a situação de "desastre".
Além de Marina Silva, sobrevoaram queimadas nos municípios de Sinop e Marcelância, no Mato Grosso, os ministros da Justiça, Tarso Genro, do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, e representantes da pasta da Agricultura e o comandante do Exército, general Enzo Martins Peri. O sobrevôo nas áreas mais críticas também serviu para que o governo antecipasse para o dia 20 de fevereiro o começo de uma operação federal para tentar identificar os responsáveis pelas queimadas. As Forças Aramadas vão participar da fiscalização.
Segundo o ministro Tarso Genro, a comitiva constatou que o desmatamento registrado nos dois últimos meses do ano passado envolve interesses que vão desde o madeireiro ilegal, passando por quem aproveita a madeira de segunda linha para as carvoarias, até quem forma pasto para a pecuária que depois de poucos anos transforma-se em fazenda de soja. "Vamos verificar se esta cadeia está interligada ou se é uma sucessão de atos delituosos", disse o ministro.
A repressão às derrubadas da floresta prevê o recadastramento de todas as propriedades rurais acima de 400 hectares. O governo também espera identificar os 150 maiores contraventores para tentar enquadrá-los na lei de crimes ambientais. O Ibama fará um levantamento das fazendas embargadas para verificar se elas estão sendo exploradas ilegalmente. O trabalho da força-tarefa vai se concentrar nos 36 municípios onde o Inpe detectou as maiores queimadas.
A comitiva de Brasília sobrevoou a área do Mato Grosso acompanhada do governador do estado, o megaagricultor Blairo Maggi (PR). Junto com prefeitos de 19 municípios considerados na área do desmatamento intensivo, o governador defendeu ontem a revisão dos dados coletados pelo Inpe e a retratação do instituto.
O presidente do Ibama espera que a derrubada da floresta no Pará, Mato Grosso e Rondônia tenha sido uma antecipação da ação dos pecuaristas para se antecipar ao período das chuvas que começaram este mês na região. Os dirigentes do setor ambientalista do governo se assustaram porque entre agosto de 2006 e abril do ano passado foram desmatados 2,5 mil quilômetros quadrados, enquanto que somente entre agosto e dezembro de 2007 a derrubada da floresta atingiu 3,3 mil quilômetros quadrados.
(Por Leonel Rocha, Correio Braziliense, 31/01/2008)