Réus no caso da fraude afirmam à Justiça que agiam com conhecimento de cúpula de empresas
Em mais de 13 horas de depoimentos, os oito réus do escândalo das usinas levantaram suspeitas sobre a direção da Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica (CGTEE), da Eletrobrás e do banco alemão KfW e o representante da CCC Machinery, Erwin Karl, que está foragido.
Os oito suspeitos foram denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF) por contratar financiamentos com o banco alemão KfW e com a CCC Machinery com aval ilegal da CGTEE, subsidiária da Eletrobrás, em contratos falsificados. O dinheiro serviria para construir usinas de energia no Estado e no Paraná. A Hamburgo Energia e a Winimport foram beneficiadas pelo esquema.
Às 10h25min, iniciou-se o primeiro depoimento. Preso no Presídio Central havia 71 dias, o funcionário da Elétrica Jacuí (Eleja) Filipe Parisotto entrou algemado na sala de audiências da 1ª Vara Criminal, em Porto Alegre.
- Não estou bem, doutor. Tenho uma doença grave e já emagreci três quilos - lamentou o réu ao juiz.
Depois de o juiz revogar a prisão de Parisotto, o diretor-presidente da Elétrica Jacuí (Eleja), Julio Magalhães, destacou o papel de Erwin na empresa.
- Ele (Erwin) era o financeiro. Ele mesmo se nomeou - disse Magalhães.
O diretor também disse suspeitar de que alguém da CGTEE teria deixado um carimbo falso da empresa em sua casa para prejudicar a Eleja.
- Nenhum desses diretores da CGTEE foi investigado - queixou-se.
Magalhães chorou e pediu um copo dágua antes de dizer que desconhecia aval da CGTEE a sua empresa.
Considerado o pivô da fraude, o ex-diretor técnico e de Meio Ambiente da CGTEE Carlos Marcelo Cecin desabafou:
- Quem foi induzido a erro fui eu, e não o KfW. Fui vítima, tive uma grande decepção com o diretor-presidente da CGTEE, Sereno Chaise. Me parece coisa de mau caráter dizer que não teve nada com isso, "não sei quem é Fulano".
O ex-diretor técnico confirmou que assinou os contratos de financiamento, mas alega que a documentação era preliminar e dependia de aprovação do conselho de administração da empresa. Segundo Cecin, ele, Erwin e o então presidente em exercício da Eletrobrás, Valter Cardeal, se reuniram no Rio. Os três discutiram a criação de uma subsidiária da CCC Machinery no Brasil e a construção de usinas de biomassa no Estado.
- Cardeal ficou entusiasmado e disse: "Vamos fazer". O sinal verde foi claríssimo - afirmou Cecin.
O ex-diretor considerou grave o fato de o KfW aceitar a CGTEE como avalista num contrato assinado apenas por ele:
- Acredito que espiritualmente isso veio para o meu aprendizado.
O diretor-presidente da Hamburgo, Alan Barbosa, disse que Cardeal e a CGTEE sabiam da negociação.
- Fizemos várias reuniões, eu, Luciano, Sereno e Júlio Quadros (presidente da CGTEE até 2006).
Por volta das 23h30min de ontem, a sessão ainda não havia acabado. Após depoimento do presidente da Cooperativa Rio-grandense de Eletricidade (Coorece), Iorque Barbosa, seria ouvido o ex-advogado da CGTEE Joceles Moreira.
(Zero Hora, 01/02/2008)