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influenza gripe
2008-02-01

O galo começou a cantar estranhamente às 3 da manhã, e Partoparmin, um agricultor nesta pequena aldeia numa encosta na montanha, foi até o quintal ver o que estava acontecendo. Ao redor dele havia galinhas deitadas no chão, estremecendo. "Alguns minutos depois elas estavam mortas", disse Partoparmin, 60. "Imediatamente eu pensei: pode ser a gripe aviária."

Partoparmin, que como muitos indonésios só usa um nome, enterrou as aves, como tinha visto fazer nos avisos na televisão, e não se fizeram testes para confirmar a causa da morte. Mas em toda a Indonésia desde o final de 2003 as galinhas vêm morrendo de gripe aviária. E mais que em qualquer outro país as pessoas também estão morrendo, infectadas por suas galinhas ou por outras fontes.

Três pessoas morreram da doença nesta semana, elevando o número de mortos na Indonésia para 101 -quase a metade de todas as mortes por gripe aviária no mundo. Os outros países com maiores índices de mortes relatadas são Vietnã , com 48; Egito, 19, e China e Tailândia, com 17 cada.


O índice de mortalidade na Indonésia também é o mais alto do mundo. Só 24 das 125 pessoas relatadas com infecção sobreviveram. O vírus teria infectado 358 pessoas em todo o mundo em 14 países, matando 224 delas, segundo a Organização Mundial de Saúde. Especialistas dizem que por causa de deficiências nos relatórios de infecções e mortes o verdadeiro número pode ser muito maior.

A preocupação entre os profissionais de saúde é que o vírus sofra uma mutação que permita a transmissão entre humanos, aumentando a possibilidade de uma epidemia mundial.

Ninguém tem certeza por que tantas pessoas estão morrendo na Indonésia ou porque o índice de sobrevivência é tão baixo. Especialistas em saúde pública dizem que poderia haver uma demora na reação e no tratamento aqui, ou que a variedade do vírus seja mais difícil de tratar do que em outros lugares.

É especialmente difícil conter a doença na Indonésia porque a maioria das galinhas corre livremente pelas casas das pessoas nas aldeias e até nas cidades, e não são contidas em granjas, disse a ex-diretora de saúde animal do Ministério da Agricultura, Trisatya Putri Naipospos, em uma entrevista por telefone. Oitenta por cento da população de galinhas, de 1,4 bilhão, estão espalhados em 395 milhões de quintais, onde as pessoas criam as aves para comer ou vender, ela disse. "Você pode imaginar como é difícil apanhar e vacinar essas aves? Quantas se podem vacinar por dia?", disse.

E depois que as galinhas de Partoparmin morreram, três anos atrás, a infecção parece ter-se disseminado de casa em casa nessa aldeia remota no centro de Java, e as pessoas queimaram e enterraram dezenas de aves mortas ou atiraram as carcaças no mato.

Uma equipe do governo a visitou e pediu a todos para reunirem suas galinhas para ser vacinadas, disse a mulher de Partoparmin, Sukarno, 55, mas isso não pareceu adiantar. "Eu não conseguia pegar todas, porque elas corriam", disse Sukarno. "Mesmo quando estão dentro de casa são difíceis de apanhar. Quando você se aproxima elas correm em todas as direções."

O governo periodicamente transmite avisos pela televisão com instruções para se proteger da infecção: lavar as mãos, não tocar em galinhas doentes, cozinhar bem as galinhas e mantê-las em gaiolas.

Mas se as origens e a transmissão da gripe aviária continuam difusas para os especialistas de saúde, a doença é ainda mais misteriosa para as pessoas que correm maior risco.

"Na televisão eu só ouço que é gripe aviária, mas não entendo do que se trata", disse Warsono, 35, que vende raspadinha de gelo com uma carroça em uma escola perto daqui. "Muita gente está dizendo que tinha galinhas saudáveis num dia e no dia seguinte estavam mortas. Isso é a gripe aviária? E se for o que eu devo fazer? Existe algum remédio para isso?"

As galinhas domésticas servem como uma pequena conta bancária para os indonésios pobres. Warsono disse que tem 20 a 25 delas, que entram e saem de sua casa enquanto ele conversa, ciscando o chão por comida. "A maioria delas nós comemos", ele disse. "Mas quando precisamos de um dinheiro extra as vendemos." Em geral ele vende uma galinha pelo equivalente a US$ 2, ele disse.

Segundo Naipospos, pode ser difícil chamar a atenção das pessoas quando elas vivem sob a constante ameaça de desastres mais iminentes. Abalada por terremotos, vulcões, tsunamis, naufrágios de ferries, acidentes aéreos, inundações e deslizamentos mortais, a Indonésia parece quase destinada a se tornar o epicentro mundial das mortes por gripe aviária . "Muita gente morre principalmente de tuberculose, malária e dengue", disse Naipospos. "Se você disser que cem pessoas morreram em dois anos, acha que é suficiente para explicar às pessoas que essa é uma ameaça real, muito próxima delas?"

(Por Seth Mydans, International Herald Tribune, tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves, UOL, 01/02/2008)

 

 

 


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