Estudos de zoneamento são demorados e caros, mas necessários ao apontamento de diretrizes para planejamento de diversos tipos de atividades produtivas. Depois do zoneamento para atividades de silvicultura lançado no início de 2007 pela Fepam/RS, um outro estudo nesta área está chamando a atenção do órgão estadual licenciador. Trata-se dos zoneamentos agro e edafoclimático disponibilizados há menos de um mês no
site da Embrapa Clima Temperado, de Pelotas (RS). A grande diferença entre os trabalhos é que enquanto o da Fepam aponta áreas restritivas à silvicultura (independentemente de considerar espécies) em todo o Estado gaúcho, o da Embrapa faz o oposto. Ou seja, diz onde é mais propício o plantio, considerando três espécies de eucalipto: o E. grandis, o E. dunnii e o E. globulus. O zoneamento agroclimático, que no estudo da Embrapa foi feito também para todo o Estado, indica as melhores áreas para cultivo dessas espécies levando em consideração riscos climáticos. Já o zoneamento edafoclimático faz o mesmo, mas refere-se apenas à região Sul do Estado e considera não apenas os riscos climáticos, como geada e estiagem, mas aspectos do solo: profundidade, drenagem, pedregosidade, relevo etc.
RestriçõesEm razão das escalas adotadas no trabalho da Embrapa – 1: 50.000 e 1: 100.000 –, mais detalhadas do que as do zoneamento realizado pela Fepam, o órgão licenciador estadual está, conforme o pesquisador Marcos Silveira Wrege, agrônomo da Embrapa e um dos autores do estudo, buscando contato para tentar aproveitar dados e informações deste recente zoneamento. A intenção seria melhorar o documento da Fepam para reavaliar as áreas por ele consideradas de alta vulnerabilidade ao plantio (17 das 45 unidades de paisagem natural apontadas no zoneamento da Fepam), de modo a permitirem-se análises em escalas mais detalhadas. Além disto, a Fepam teria interesse em tocar novos projetos com a Embrapa, aproveitando dados já gerados pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. "Mas não sabemos como isto vai se dar", diz o agrônomo.
O trabalho da Embrapa, que levou dois anos e meio para ser concluído e contou com dados já disponíveis na própria Embrapa, no Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e da Fundação de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), custou R$ 150 mil, segundo Wrege. O valor foi bancado pela Embrapa e Fapergs (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do RS). Ele assinala que "os dois zoneamentos não podem ser comparados, porque são estudos diferentes e com objetivos diferentes, embora se pareçam um pouco". "O objetivo do nosso zoneamento não é limitar a atividade, mas orientar onde é melhor plantar e, de fato, existem sérias limitações de solos na Região do Corede [Conselho Regional de Desenvolvimento] Sul.
A restrição quanto ao clima refere-se mais à ocorrência de geadas, mas é mais ou menos uniforme na Região do Corede Sul, sendo identificadas diferenças em nível de Estado como um todo", afirma. O Corede Sul inclui os municípios de Amaral Ferrador, Arroio do Padre, Arroio Grande, Canguçu, Capão do Leão, Cerrito, Chuí, Herval, Jaguarão, Morro Redondo, Pedras Altas, Pedro Osório, Pelotas, Pinheiro Machado, Piratini, Rio Grande, Santa Vitória do Palmar, Santana da Boa Vista, São José do Norte, São Lourenço do Sul, Tavares e Turuçu. A área total é de aproximadamente 35 mil quilômetros quadrados. A questão da escala, segundo o pesquisador, é fundamental porque significa a densidade de informações disponíveis por área. Assim, por exemplo, "enquanto uma escala de 1:750.000 oferece uma informação a cada 800 ou 900 metros, uma outra, de 1:50.000 fornece uma informação a cada 20 ou 30 metros", exemplifica.
Semelhanças e diferençasApesar de visarem a objetivos distintos e de o zoneamento da Fepam ser o que oficialmente deve ser observado para efeito de licenciamento ambiental de atividades de silvicultura no Estado, os documentos da Fundação e da Embrapa têm algumas semelhanças, afirma Wrege, especialmente na parte que trata da análise de solos. "Os nossos levantamentos têm informações sobre solos que podem ser aproveitadas no da Fepam", reconhece.
Contudo, na parte dos recursos hídricos, segundo ele, a Fepam levou em conta dados de 12 estações, ao passo que a Embrapa considerou 160 em todo o Estado, sendo que as abrangidas pela Fepam estão entre essas 160. "Neste ponto, nosso estudo é mais completo, embora as metodologias sejam diferentes", nota. A Embrapa, diferentemente da Fepam, não conseguiu atingir todo o Estado com o zoneamento edafoclimático, mas apenas o Corede Sul. Porém, para o zoneamento agroclimático, os dados são de âmbito estadual. De acordo com Wrege, a unidade de Clima Temperado está prestes a ficar desfalcada em termos de recursos humanos, pois alguns pesquisadores estão se aposentando e ele mesmo está indo para a Embrapa Floresta, em Curitiba (PR). Isto pode levar a uma demora maior para que sejam concluídos levantamentos edafoclimáticos no restante do Estado, sem falar na questão do custo da pesquisa. Wrege informa que os novos estudos contam com recursos das empresas, além dos já bancados por instituições governamentais.
Espécies Para a escolha das espécies do zoneamento, a Embrapa utilizou como critérios a mais plantada (Eucalyptus grandi) e as mais promissoras (Eucalyptus duni e globulus). Segundo Wrege, "o grandis é muito suscetível a geadas, e no ano passado o pessoal plantou bastante". Isto representa um problema nas regiões mais suscetiveis a baixas temperaturas, tanto que "a Votorantim chegou a perder 40% da área plantada nos últimos anos", justamente porque não havia estudos para orientar as melhores áreas. "Eles [Votorantim] começaram plantando há quatro anos, na área de Pelotas, sem um zoneamento", observa.
Publicação Além do site, onde se pode acessar gratuitamente a metodologia, os resultados e mapas relativos aos zoneamentos agro e edafoclimático, a Embrapa pretende lançar uma publicação do trabalho, "dentro de uns quatro meses", prevê o agrônomo.
(Por Cláudia Viegas, AmbienteJÁ, 30/01/2008)