Um projeto do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) para retirar carroceiros das ruas da Capital ainda não saiu do papel por falta de dinheiro.
Técnicos da prefeitura propõem a criação do Centro de Material de Reciclagem (Cemar) em um terreno na Rua Voluntários da Pátria, que funcionaria como uma unidade de triagem, com cozinha do Fome Zero, posto médico e cursos profissionalizantes para os familiares dos catadores.
A proposta, avaliada em R$ 3 milhões, foi levada ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no ano passado, mas não se enquadrava nos critérios dos projetos apoiados pela entidade porque incluía a construção de um galpão. Agora, a prefeitura aposta as fichas na obtenção de recursos com o Ministério do Trabalho.
A idéia é atender os catadores da Região das Ilhas e do Centro, onde há maior concentração de carroceiros. Um levantamento do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis diz que cerca de 2,5 mil trabalhadores da região das Ilhas tiram o sustento do recolhimento de garrafas pet, papelão e latinhas de alumínio.
Um cadastramento de carroças feito pela Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) registrou 4 mil veículos de tração animal. Para o vereador Sebastião Melo (PMDB), o número é bem maior. Ele calcula que 8 mil carroças, incluindo as de moradores da Região Metropolitana, disputem espaço entre os carros no asfalto da Capital.
O problema é que abandonar as carroças nem passa pela cabeça dos catadores da Região das Ilhas. De acordo com o carroceiro Venâncio Francisco de Castro, 50 anos, eles recebem, em média, R$ 350 por semana. Se fossem trabalhar numa unidade de triagem, não ganhariam mais do que R$ 400 por mês. Venâncio é o coordenador-estadual do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, com cerca de 2 mil carroceiros associados no Rio Grande do Sul. Só na Ilha, são 320 "companheiros", como Venâncio costuma chamar os colegas de profissão. Ele trabalha como motorista da entidade, evitando que os entulhos passem pelas mãos do "atravessador", que compra do carroceiro e carrega o material num caminhão. E do "aperista", que compra do "atravessador" e repassa para a indústria.
- Somos responsáveis pela coleta, pela comercialização e pela organização. Aqui não tem DMLU impondo regras e ordens. Não tem "fulano de tal engravatadinho" que vai nos dizer o que fazer. O catador que toma a decisão - diz Venâncio.
- Em algum momento, o poder público vai ser obrigado a tirar os carroceiros das ruas. Pelo menos nós estamos tentando oferecer uma alternativa de trabalho para essas pessoas - rebate o diretor em exercício do DMLU, Carlos Vicente Bernardoni Gonçalves.
(Por Herculano Barreto Filho, Zero Hora, 31/01/2008)