Gerente do Programa de Monitoramento por Satélites do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Dalton Valeriano fez parte da comitiva que sobrevoou um conjunto de áreas avaliadas como desmatadas pelo sistema Deter -classificação que é questionada pelo governo de Mato Grosso. Para Valeriano, a divergência se deve a uma diferença conceitual sobre o que é floresta.
FOLHA - O que foi possível perceber no sobrevôo?
DALTON VALERIANO - Sobrevoamos várias áreas que podiam não estar desmatadas no sentido de árvores totalmente derrubadas, mas que estavam, porém, degradadas por completo, queimadas e com árvores em pé, mortas. Essas áreas foram computadas como desmatamento pelo Deter.
FOLHA - O governo de Mato Grosso diz que são situações distintas.
VALERIANO - Se você considerar só a floresta deitada como desmatamento, é uma conclusão verdadeira. A perda da função da floresta, contudo, é séria e tem de ser levada em conta. Mas nós vamos atender ao pedido do governador e fazer uma revisão desses procedimentos e desses dados.
FOLHA - Com a revisão, as áreas sobrevoadas hoje [ontem] serão consideradas desmatamentos?
VALERIANO - Na minha opinião, terão de ser considerados como desmatamentos. Para a função que a floresta tem, de conservação de biodiversidade, função hidrológica, de estoques de carbono, as áreas que vimos já estão fora.
FOLHA - Houve algum erro na divulgação dos dados?
VALERIANO - O intento dessa divulgação era apresentar que o Deter percebeu uma tendência de aumento do desmatamento na Amazônia. A gente não podia ficar simplesmente esperando. Isso vai para a rede, esperando que as pessoas constatem isso. A gente tem que ser pró-ativo nessa hora.
(Folha de São Paulo, 31/01/2008)