Um estudo publicado na revista Cadernos de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) indica que a utilização de uma mistura de diesel e etanol na frota de ônibus de São Paulo poderia gerar não apenas ganhos econômicos como também benefícios ambientais e de saúde pública.
Para chegar a essas conclusões, a autora do trabalho, Simone El Khouri Miraglia, pesquisadora do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental (LPAE) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), fez uma série de simulações a partir de resultados de um amplo estudo elaborado pelo laboratório.
A combinação analisada pela engenheira foi constituída por 91,8% de diesel comum, 7,7% de etanol e 0,5% de aditivo. As estimativas tiveram como base uma frota de 180,7 mil caminhões – sendo 50% utilizando a mistura e o restante o diesel comum – e 42,5 mil ônibus, sendo 29 mil (cerca de 70% da frota) circulando com a mistura.
“Trata-se de um estudo de valoração econômica ambiental que se baseia em funções dose-resposta de estudos epidemiológicos realizados pela FMUSP. As funções dose-resposta são estimativas que associam concentrações de poluentes atmosféricos com indicadores de mortalidade por doenças respiratórias e cardiovasculares”, explicou Simone, que também é professora do mestrado em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente do Centro Universitário Senac, à Agência FAPESP.
Partindo do pressuposto de que, quanto menores as concentrações de poluentes, menores serão os problemas de saúde da população local, a pesquisadora fez uma avaliação dos impactos ambientais com base em dados sobre poluentes atmosféricos coletados na Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb).
“A estimativa é que, devido à diluição proporcionada pelos três componentes, a mistura reduza em cerca de 10% a emissão de poluentes, especialmente monóxido de carbono e outros materiais particulados inaláveis, quando comparada ao diesel comum. Com a mistura seria possível melhorar a qualidade do ar na cidade sem alterar o desempenho dos motores dos veículos”, apontou.
Simone, que também é professora responsável pela disciplina de Valoração Econômica Ambiental no Curso de Especialização em Gestão e Tecnologias Ambientais, oferecido pela Escola Politécnica da USP, explica que a metodologia de valoração econômica, utilizada no estudo em análise, caracteriza-se pela atribuição de valores monetários aos recursos ambientais.
Segundo ela, a análise custo-benefício do estudo resultou em uma economia de cerca de US$ 2,8 milhões por ano. “Esse valor se refere principalmente à economia que os veículos teriam com a adição do etanol, que é mais barato, ao diesel comum, considerando o consumo por litro dos caminhões e ônibus estudados, além da economia associada, devido a menor emissão de poluentes, com mortes e internações hospitalares evitadas pela diminuição da incidência de doenças na população”, explicou.
Os dados sobre preços aproximados dos combustíveis comercializados nos municípios brasileiros e sobre o consumo de combustíveis nas capitais foram coletados, respectivamente, na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e na Petrobras.
(Por Thiago Romero, Agência Fapesp, Envolverde, 30/01/2008)