Um projeto internacional, desenvolvido em parceria por cientistas brasileiros, norte-americanos, alemães e suecos, dá início, nesta semana, ao monitoramento atmosférico da floresta amazônica. Está prevista a construção de duas bases na floresta, em áreas pertencentes ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), uma das instituições envolvidas na ação.
Aproximadamente 30 toneladas de equipamentos serão utilizados na construção de estações que irão mostrar como a região interfere nas mudanças climáticas globais e nos processos biológicos, químicos e físicos responsáveis pela emissão de gases que regulam o ciclo hidrológico na Amazônia. As estações funcionarão, inicialmente, por um período de dois anos.
Segundo o pesquisador do Núcleo de Modelagem Climática e Ambiental do Inpa, Teotônio Pauliqueves, as estações serão capazes de caracterizar, do ponto de vista físico e químico, as partículas em suspensão na atmosfera, ou seja, a poeira e a fuligem geradas pelos carros e a fumaça de queimadas, por exemplo. Com isso, será possível entender as diferenças existentes entre uma região natural - sem influência de emissões de poluentes - e uma região poluída, disse ele, em entrevista à Agência Brasil.
"Hoje existe um grande esforço mundial no sentido de contabilizar o efeito dessas partículas nas mudanças climáticas futuras, porque elas interagem com o clima por meio da luz solar e das nuvens, por exemplo. O clima da terra é todo interligado e, por isso, essa pesquisa será importante", afirmou Poliqueves, ressaltando que as partículas de aerossol também participam do balanço radiativo, da formação de nuvens e da química atmosférica.
A primeira base de monitoramento está instalada na Estação Experimental de Silvicultura Tropical, no km 44 da BR-174, e a segunda, no sítio Experimental do Programa Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), no km 50 da BR-174, ambos do Inpa.
Os equipamentos pertencem às instituições parceiras e entraram no Brasil por um processo de importação temporária que permite a utilização conjunta pelos cientistas envolvidos. "Todos os dados coletados na floresta serão compartilhados por todos os cientistas. Eles poderão usar os dados que vamos medir, assim como vamos usar os dados experimentais de nossos parceiros também. Cada um com seu foco principal, com sua pergunta científica", informou.
Perguntado sobre a segurança no compartilhamento das informações, Poliqueves disse que não há motivo para preocupação, porque não haverá dados estratégicos. Além disso, por serem coletados com dinheiro público, os dados também serão públicos. "Não há por que temer isso. Não é o tipo de coisa que tem influência direta no desenvolvimento do país. Isso é estratégico para entendermos o clima e a influência da Amazônia no clima mundial, que não é pequena. Conhecer a floresta amazônica, nesse modo de ciência básica, não tem problema nenhum", destacou.
Também participam do experimento o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e a Universidade de São Paulo (USP). Terminadas as atividades de monitoramento, serão realizadas reuniões científicas e conferências para discussão, consolidação e organização dos dados coletados. "Esse é um trabalho coletivo, que começa depois que o experimento acaba. Não basta gerar o dado, tem que analisar, refletir, pensar sobre o tipo de medida que se fez e cruzar esses dados", concluiu Poliqueves.
(Por Amanda Mota, Agência Brasil, 30/01/2008)