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passivos dos biocombustíveis desmatamento
2008-01-30
Era para ser um grande passo no rumo da redução das emissões de gases estufa, principalmente o Co2 (dióxido de carbono), que sai no cano de descarga de automóveis e caminhões, um volume crescente em função do aumento da frota – 800 milhões de veículos, no mundo. Os chamados biocombustíveis, seja o álcool destilado da cana-de-açúcar (etanol), ou o diesel vegetal, de grãos como a soja, colza, ou palmeiras, como o dendê, produzido intensamente na Ásia (Malásia, Indonésia). O dendê é a soja do Oriente. Plantações imensas de 500 mil hectares, 700 mil hectares,virou o “ouro verde”, como definiu o bilionário Sukanto Tanoto, proprietário do grupo RGM International, da Indonésia, país que plantava 6,4 milhões de hectares e pretende acrescentar mais 20 milhões nos próximos 20 anos. Na África Meridional, os bilionários falam em Oriente Médio dos combustíveis vegetais. Há uma corrida mundial por espaços, no caso do dendê, inclui a Colômbia, pretende aumentar de 300 mil hectares para um milhão de hectares.

O Programa de Meio Ambiente da ONU (Pnuma), prevê o aniquilamento das florestas tropicais úmidas nos próximos 15 anos. Nuvens espessas de fumaça, que tem sido detectadas pelos satélites se deslocando do sudoeste asiático confirmam o modelo implantado. Estão drenando a turfa – mistura de vegetais em decomposição, rica em carbono – queimando e transformando em monocultura de dendê, atividade industrial de alto rendimento. Produz até 6 toneladas de óleo por hectare, com 26% de rendimento, enquanto a soja produz no máximo 0,6 ton/ha, e um rendimento de 17% de óleo. Montou-se uma nova aliança mundial, das corporações responsáveis pela comercialização de grãos, como ADM (é maior em esmagamento), a Cargill (maior na comercialização) e a Bunge – as três somadas, representam 75% do comércio mundial de grãos.

E às indústrias de petróleo, de automóveis e a química, que produz fertilizantes, inseticidas, fungicidas e herbicidas, algo como 45 milhões de toneladas, atualmente. Paralelamente, algumas alianças com as corporações de biotecnologia e produtoras de sementes, como Monsanto e Dupont, responsáveis pela maior parte do comércio. Produzirão em breve: soja, milho e cana, transgênicos, com objetivo específico de fabricar óleo e misturar ao diesel, e etanol, no caso da cana. Não é para consumo humano. A cana terá mais celulose, o milho mais amido, e por aí vai, até chegar na segunda geração de matérias – primas celulósicas de combustíveis.

A barriga ou o tanque?
As corporações estão vasculhando as entranhas do planeta, atrás de bactérias, fungos e enzimas que facilitem a transformação da celulose em álcool, vasculham, inclusive, os intestinos dos cupins, atrás dos protozoários que decompõem a madeira. É um jogo de cartas marcadas. O agronegócio conseguiu um novo mercado para as commodities, como chamam os grãos produzidos em escala mundial. Mercadorias baratas, que já subiram 9% no último ano. Resultado da produção de etanol do milho norte- americano – 80 milhões de toneladas, que antes ia para rações animais e xarope. A pergunta, daqui em diante será a seguinte: qual mercado, a barriga ou o tanque? É claro, que ninguém espera um comportamento ético ou romântico de corporações internacionais.

Pensar no problema da mudança climática, redução de emissões e diminuição do aquecimento global, seria pedir demais às ditas cujas. Agora botar mais lenha na fogueira, literalmente, consumindo o que resta das florestas na Ásia – também na Índia, que pretende produzir 14 milhões de hectares de pinhão manso, destinados ao mercado de combustíveis – já é arriscado demais. O economista Nicholas Stern elaborou um relatório a pedido do governo britânico sobre o problema das mudanças climáticos. Ele disse que a agricultura industrial libera 14% dos gases estufa atualmente – pela produção de fertilizantes e químicos, a irrigação de grandes extensões e o uso do solo. O solo é um reservatório imenso de carbono, maior que as florestas.

Um aumento de 30%
Se contar o processo de industrialização, comercialização e desmatamento, para abertura de novas plantações, o índice salta para 41%. Stern calcula um aumento de 30% nas emissões do setor agrícola até 2020. Um outro especialista, na questão da agricultura mundial, é Lester Brown. Nos últimos sete anos, registrou ele, a produção de alimentos vem caindo no mundo. No ano de 2006 o déficit foi de 4%, algo como 73 milhões de toneladas, uma diferença entre quase 2 bilhões de toneladas produzidas, e a necessidade de 2,040 bilhões de toneladas.

Na Malásia, as maiores produtoras de dendê se uniram, e estão montando novas refinarias, uma delas em Rotterdam, na Holanda. Refinarias com capacidade de 900 mil, 1 milhão de toneladas. Um outro bilionário, Robert Kuok e a rede Wilmar, dono do jornal diário de Hong Kong, “South China Morning”, entre outras coisas, montou uma corporação internacional em sociedade com a ADM (Archer, Daniels Midland) e a COFCO (China National Cereals, Oils And Foodstuffs Import, Export Corporation) a maior companhia de alimentos da China. A Wilmar tem 435 mil hectares de plantações de dendê e 25 refinarias na Indonésia, Malásia e Singapura e vai instalar outra refinaria em Rotterdam , na Holanda. Kuok também tem a maior empresa de transportes do Pacífico. Recentemente se tornou sócio, via Sucden, outra gigante do setor açucareiro, da Cosan, maior grupo brasileiro na produção de açúcar e etanol, controlada por Rubens Ometto Silveira Mello, responsável pela industrialização de cerca de 30 milhões de toneladas de cana e a comercialização de 1 bilhão de litros de etanol.

Negócio para pequenos
No etanol, as alianças internacionais acontecem no Brasil, o maior produtor juntamente com os Estados unidos – os dois mantém 70% do mercado. O Brasil detém mais de 50% do mercado de açúcar. As famílias Biagi e Junqueira se uniram na Crystalsev, já se associaram com o a Golden Holdings e o Grupo Carlyle, um fundo de investimento, com sede em Washington, com ativos de 55 bilhões de dólares.

Ometto e Votorantim se associaram em duas empresas: a Cana Vialis, a maior em melhoramento genético da cana-de-açúcar e a Allelyx, mais importante em biotecnologia. A Votorantim se associou com a Monsanto para produzir a cana transgênica e lançar em 2009.No etanol existem pelo menos quatro fundos de investimentos internacionais, com sedes nas ilhas Bermudas, Caimans ou em Londres. Juntos, arrecadaram mais de 1 bilhão de dólares. George Soros, Bill Gates, Vinod Khosla, Ron Burkle (magnata dos supermercados), Steve case (co-fundador da AOL) e outros figurões estão nos negócios do etanol.

Em suma, é um negócio para pequenos, parafraseando o discurso oficial. Ou melhor, pequeno....grupo de bilionários. O resto é figurante, papel reservado à maior parte da população mundial de 6,5 bilhões. Somente 10% são proprietários de automóveis. A vida das petrolíferas será longa, o mercado automobilístico só vai parar de crescer, quando os moradores das metrópoles não conseguirem rodar nas marginais da vida. Ou então, quando faltar bóia. Aí encostarão seus carros nos postos pegarão uma garrafa pet e perguntarão ao frentista: será que dá para cozinhar com esse óleo?

(Por Najar Tubino*, Eco Agência, 30/01/2008)
*Jornalista



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