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desmatamento da amazônia
2008-01-30

Segundo Planalto, cúpula do governo tem "desconfiança" de número que aponta aceleração da derrubada na Amazônia

Polícia Federal e ministérios vão avaliar o problema em campo, e novo relatório deve sair em um mês; grupo sobrevoará região hoje

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou que a Polícia Federal e o ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura façam uma checagem em campo para confirmar se houve aumento do ritmo de desmatamento da Amazônia nos últimos cinco meses de 2007.

Nas palavras de um auxiliar direto, há "desconfiança" na cúpula do governo a respeito do alerta que o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) divulgou na quarta-feira da semana passada. Lula quer, no prazo de um mês, uma avaliação nos locais para "tirar dúvida" sobre os dados, ainda segundo o relato desse auxiliar.

Hoje, um grupo de ministros fará um sobrevôo da região como parte dessa checagem.

Lula foi estimulado pela repercussão negativa da notícia. Além disso, setores do governo capitaneados pelo Ministério da Agricultura endossaram as críticas aos números feitas pelo governador aliado Blairo Maggi (PR-MT), conhecido como um dos "reis da soja". Maggi integrará a comitiva que fará o sobrevôo hoje.

Segundo estimativa do Inpe, 7.000 km2 de floresta, 4,7 vezes a área da cidade de São Paulo, foram derrubados no último trimestre. Os dados mostrariam interrupção do ritmo da queda de desmatamento, que vinha caindo desde a virada de 2004 para 2005.

Um ministro disse à Folha que, no fim de 2007, havia menos nuvens na Amazônia do que o usual naquela época do ano. Com menos nuvens, as imagens de satélite poderiam ter captado áreas já desmatadas antes e que não haviam sido detectadas.

Ou seja, poderia existir uma área de desmate maior do que a sabida, mas ela poderia ser antiga, o que não significaria aceleração do corte da floresta. A notícia de aumento do ritmo do desmatamento preocupou Lula, que fez um pronunciamento no final de 2007 dizendo que seu governo combinara política de desenvolvimento da Amazônia com seguidas diminuições de áreas devastadas.

Há ainda o impacto internacional dessa notícia, negativo para um presidente com boa imagem no exterior e que vende o agronegócio brasileiro, com o álcool à frente, como ecologicamente correto.

Segundo a ministra Marina Silva (Meio Ambiente), a extensão da atividade pecuária e o aumento de plantações de soja na Amazônia seriam as principais causas do desmate.

Além da desconfiança de Lula, Maggi encaminhou à cúpula do governo -onde tem um bom trânsito- dados que contradizem números do Inpe. De acordo com o governador, o instituto teria contabilizado áreas de devastação antiga ou até mesmo regiões em que a floresta não foi devastada.

Segundo o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, os dados aos quais o governador tem se referido são apenas dos meses de agosto e setembro, quando o Inpe cometeu um erro. Esse problema, no entanto, foi corrigido e para os outros meses não há o que duvidar das cifras.

Entraves

Reservadamente, Lula se queixa de que preocupações ambientalistas seriam exageradas. Costuma dizer que o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), plano de investimento em obras de infra-estrutura e energia, sofre atrasos devido a entraves ambientais. O presidente também afirma que o agronegócio seria a saída para a diminuição da pobreza.

Ao mesmo tempo, Lula diz respeitar o trabalho do Inpe e de Marina, mas argumenta que, para tomar decisões de médio e longo prazo para criar restrições à atividade econômica na Amazônia, precisa de uma de checagem dos dados.

Na última quinta, Lula fez reunião de emergência para declarar "moratória", segundo Marina, em 36 municípios da Amazônia que seriam responsáveis por 50% da devastação recente na região. A depender do resultado da checagem pedida por Lula, tais medidas poderão ser amenizadas.

(Kennedy Alencar, Folha de São Paulo, 30/01/2008)

 


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