Uma pesquisa realiuzada pela consultoria Accenture, divulgada pelo jornal britânico The Independent, revelou que o aquecimento global ainda não faz parte da pauta das maiores empresas do mundo, apesar dos esforços dos chefes de estado em busca de soluções para a crise climática mundial. Nove em cada dez lideranças empresariais ligadas às grandes corporações não incluem o aquecimento do clima como uma prioridade, apontou o estudo que avaliou os projetos ambientais de mais de 500 empresas na Inglaterra, EUA, Alemanha, Japão, Índia e China.
O estudo revelou uma preocupação das lideranças empresariais relacionada com os efeitos das mudanças climáticas nos negócios. Mais da metade dos empresários consultados encaram as mudanças climáticas como um fator que pode trazer altos custos para seus negócios. Foi contatada também a preocupação de que o aquecimento global prejudicará a economia mundial.
O resultado da pesquisa contraria a política ambiental de George Bush, que defende a adoção de "medidas voluntárias" por parte das empresas. A pesquisa revelou a falta de interesse das maiores empresas do mundo em investir na prevenção. Apesar disso, nesta semana Bush promoverá mais uma reunião com os representantes das maiores economias do mundo para tentar convencê-los a aderir à sua política, que não prevê sanções aos maiores poluidores.
A reunião, que acontecerá no Havaí nos dia 30 e 31 de janeiro, discutirá novamente a recusa dos EUA em aceitar metas para a redução das emissões de dióxido de carbono, a principal causa do aquecimento. As negociações desenvolvidas Bali, no mês passado, apesar da pouca evolução, é vista como uma mais uma tentativa para a busca de soluções para crise ambiental e climática.
O estudo da Accenture revela que os círculos empresariais dão pouco apoio às atividades destinadas ao controle das emissões de gases e poluentes que contribuem para o aquecimento global. A maioria das companhias pesquisadas desejam que os governos assumam um papel central para no controle das mudanças do clima.
Apenas 5% por das empresas pesquisadas – nenhuma delas da China – considera o aquecimento global como uma "prioridade máxima". O estudo revelou também que 11% das empresas entrevistadas põe a questão climática em segundo ou terceiro lugar de suas questões estratégicas.
O relatório final classificou o interesse pela preservação ambiental das grandes corporações em oitavo lugar nas prioridades apontadas pelas lideranças empresariais, aparecendo atrás de itens como "vendas crescentes", "redução de custos", "desenvolvimento de novos produtos e serviços", "recursos humanos", "mercados emergentes" e "inovação e tecnologia". Embora a maioria assegurem que adotam medidas para a redução das próprias emissões, quase um em cinco empresários ainda nada fizeram para atenuar o problema.
Durante o Forum Econômico Mundial em Davos, Mark Spelman, diretor da Accenture, afirmou ao jornal The Independent que as mudanças climáticas não ficarão mais no mesmo grau de atenção alcançado até aqui. "As atenções do empresariado precisam mudar porque as empresas começam a entender como a mudança climática irão afetar seus mercados". Quase metade das companhias pesquisadas adiantou, porém, que as mudanças climáticas terão um papel cada vez mais importante para suas atividades dentro de cinco anos - o que contrasta com a posição do governo Bush.
Matthew Farrow, presidente da Confederação das Indústrias britânicas, concordou com o relatório final da pesquisa, que indicou que as companhias têm ainda um longo e difícil caminho para digerir os aspectos econômicos da mudança climática.
A pesquisa revelou ainda que 67% dos empresários pesquisados concordou que eles têm um papel a desempenhar no combate ao aquecimento global, mas só quatro em 10 líderes empresariais se sentem em condições de adotar uma posição a respeito do tema. Na China, apenas 14% dos empresários entrevistados concordaram que suas empresas devam atuar na prevenção do efeito estufa.
O relatório conclui: "As empresas procuram claramente sinais a longo prazo sobre como e onde investir. Estão pouco dispostas a fazer grandes investimentos em iniciativas relacionadas ao clima até que as normas e regulamentos da questão tornem-se mais claras".
Nesse ponto verifica-se o contraste de posições entre os EUA e os governos europeus. Na Europa, formou-se o grupo chamado Líderes Empresariais Europeus para as Mudanças Climáticas, composto por presidentes de companhias importantes. A entidade convenceu Tony Blair e o presidente da União Européia, José Manuel Barroso, a transformar o combate aos efeitos das alterações climáticas em prioridade, com indicativos claros e rígidos para os cortes em emissões de gases e poluentes.
E a Aliança Americana para Ações Climáticas, que congrega os "CEOs" de companhias líderes como General Eletric, DuPont e Alcoa – aconselhou o governo Busch a "estabelecer um regulamento para as emissões" que reulte em uma redução de até 30% em emissões nos EUA nos próximos 15 anos.
Mark Kenber, diretor de segurança do Climate Group, disse que os resultados "decepcionantes" da pesquisa colocam em destaque o fato de que "os mecanismos de fixação de preços de carbono não são suficientementes fortes para as empresas incorporarem os riscos das mudanças climáticas em suas estratégias tradicionais de negócios".
(Expresso da Notícia,
Carbono Brasil, 29/01/2008)