As tecnologias devem estar no coração das políticas energéticas para que metas ambiciosas de corte nas emissões de gases do efeito estufa sejam alcançadas, declarou o ministro de tecnologias e economia da Alemanha, Knut Kubler, no primeiro dia da Semana de Energia Sustentável da União Européia (EUSEW), realizada em Bruxelas.
“É ingenuidade pensar que as mudanças não venham com a tecnologia. As estratégias é que trarão as tecnologias para o mercado”, afirmou Kubler durante a tarde de discussões sobre o Plano Estratégico de Tecnologias Energéticas da União Européia (EU). O plano, que aponta as mais recentes inovações tecnológicas, está se tornando o ponto de partida do desenvolvimento das políticas de energia européias.
Os benefícios e potenciais de diversas fontes renováveis foram apresentados no evento, assim como tecnologias para “limpar” fontes fósseis, como a captura e armazenamento de carbono, conhecida como CCS. Esta tecnologia, uma opção de mitigação de gases, consiste na injeção do carbono emitido pela queima de combustíveis fósseis (principalmente o carvão) em poços de petróleo e gás desativados.
Segundo Johannes Heithoff, chefe de pesquisa e desenvolvimento da empresa alemã RWE AG, existem três tecnologias de CCS que poderão ser comerciáveis em 2020. “Existem muitas opções para usar o dióxido de carbono (CO2) em poços subterrâneos, pois há capacidade geológica suficiente”, afirmou. Algumas regiões boas para este tipo de atividade, citadas por ele, foram o Mar do Norte, Mediterrâneo e os mares da Dinamarca e Alemanha.
Heithoff informou que a Noruega e a Argélia estão desenvolvendo dois grandes projetos de CCS. “Hoje procuramos apoio financeiro e não podemos esquecer que os combustíveis fósseis continuarão como nossa principal fonte energética”, destacou.
A tecnologia, no entanto, foi criticada por Frauke Thies, do Greenpeace. “Não sabemos se vai levar ao objetivo de redução devido ao risco de vazamento”, disse. A opção de energia nuclear também foi reprimida por ela, dizendo que a redução de emissões que esta fonte traz é “uma gota no oceano” perto do que é necessário.
“A boa notícia é que não precisamos destas tecnologias, basta seguirmos dois passos: eficiência energética e mudança estrutural”, defendeu. Frauke sugere descentralizar a produção energética, aumentando a co-geração; investir em renováveis em larga escala e otimizar a ligação da atual rede elétrica com as renováveis; além de medidas de eficiência na indústria, transporte, negócios e residências.
Segundo Frauke, com eficiência energética e fontes renováveis é possível reduzir em 1/3 o consumo energético na União Européia em 2050.
A Islândia apresentou um ótimo exemplo de país que soube explorar seu potencial energético limpo. A nação se orgulha em afirmar que é hoje o único país auto-suficiente em energia renovável, com 100% da eletricidade vindo de fontes limpas e a caminho de deixar o setor de transportes com o mesmo status.
Segundo o professor Bjorn Gunnarsson, diretor acadêmico da Escola de Ciências de Energias Renováveis da Islândia, o uso de energia geotérmica do país é o maior do mundo. “O potencial desta fonte é o maior de todas as renováveis”, afirmou Gunnarsson.
Em 2006, 26,5% da energia para aquecimento de edificações no país vinha de fonte geotérmica e 73,4%, de hidroelétricas. Hoje, cerca de 85% de todas as residências são aquecidas por energia geotérmica. Mesmo assim, a Islândia ainda pretende reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 50 a 70% nos próximos anos.
Os cientistas pesquisam tecnologias de escavação em condições supercríticas para que consigam alcançar profundidades maiores, onde a temperatura variam de 400 a 500o C. “Levaremos pelo menos mais uma década para concluir, mas é uma opção com grande potencial”, disse. O evento segue até o dia 1 de fevereiro e pode ser acompanhado ao vivo pela internet, no website do evento. Clique aqui para acessá-lo.
(Por Paula Scheidt,
Carbonobrasil, 29/01/2008)