À Senhora Marluze PASTOR DOS SANTOS
Diretora Regional do IBAMA (MA)
Parque do Bom Menino
65010- SÃO LUIS (MA)

Buriticupu, dia 20 de janeiro de 2008

Prezada Senhora Diretora do IBAMA-MA

Nós, membros das Comunidades de Base (CEBs) da paróquia de Santa Luzia-Terra Bela do município de Buriticupu, vimos, através desta, denunciar a situação que atinge o nosso município e os municípios vizinhos conseqüentemente ao acordo que aconteceu no final de agosto entre os Senhores madeireiros e Donos de serrarias do nosso Município. Acordo esse que foi assinado com o IBAMA depois deles fecharem a BR 222 na saída de Buriticupu durante 9 dias, conseguindo pressionar o IBAMA e o governo de nosso Estado a fim de voltar atrás sobre o assunto do fechamento das serrarias e carvoarias, que atuam de um modo ilegal no desmatamento abusivo de grandes áreas onde lavradores tomaram posse durante estes dois últimos decênios.

Nós deploramos e denunciamos este acordo no qual se envolveu até membros de nossa Igreja, contrariando os objetivos e o empenho da Campanha de Fraternidade de 2007 em prol do respeito ao meio-ambiente, querendo resgatar os valores e a vida dos povos nativos e atender o grito do planeta apelando a respeitar os equilíbrios indispensáveis para a sua sobrevivência.

Nós deploramos estes "3 meses" de prazo que foram concedidos a fim de que as serrarias "se legalizem", enquanto não tem mais nem "um caniço" de mata verde na superfície de nossa paróquia. Terra bem chamada de "Terra bela", fruto de tantas lutas para consegui-la para nós plantarmos e criarmos para o sustento de nossas famílias. Mas que não seja a custo da vida e da existência dos rios e brejos, das florestas nativas e de sua biodiversidade que deveríamos proteger através das reservas que foram instituídas e que alguns de nós tentamos conservar, mas sem a fiscalização e o apoio necessário dos órgãos habilitados, deixamos estas poucas reservas muitas vezes entregues às chamas das queimadas vizinhas sem ter como se defender.

Nós deploramos estes "3 meses" que já foram superados e que abriram a porta para novas invasões de madeireiros em municípios vizinhos, inclusive causando a morte de várias pessoas entre os próprios madeireiros e a do cacique indígena Tomé Guajajara da aldeia Lagoa Comprida na Terra Indígena Araribóia do município vizinho de Amarante. Foi o mesmo dia em que uma grande confusão e invasão aconteceu na delegacia de Buriticupu.

Por isso, fazemos nosso o pensamento e a declaração do nosso bispo diocesano na carta que ele enviou aos membros da Igreja Particular de Viana, no dia 15 de novembro do ano 2007. "Esta morte está evidentemente ligada à atividade dos grandes e pequenos madeireiros, inclusive de Buriticupu, município que, desde sempre, se destaca pela ausência de Estado e por uma economia madeireira, a qual destruiu todas as matas da região, explorou e devastou a Reserva do Gurupi e, ultimamente, procura a madeira nas terras indígenas".

Nós deploramos e denunciamos este acordo porque somos testemunhas cada dia da destruição das estradas de chão que levam aos nossos assentamentos do interior, onde passam, preferivelmente de noite, numerosos caminhões, indo para os municípios vizinhos de Bom Jardim pelo caminho de Vila Pindaré-Presa de Porco e outros caminhos do interior, carregados na volta de madeiras nobres.

Deploramos também as más condições e falta de segurança às quais são submetidos os próprios operários da madeira e denunciamos a invasão ilegal das reservas indígenas do outro lado do Rio Pindaré. Deploramos e denunciamos a reabertura das carvoeiras, à vista de todos, sem nenhuma fiscalização nem controle das condições de exploração do que sobra de nossas matas e da vida dos próprios carvoeiros, de suas famílias e das famílias que habitam nos locais.

Deploramos também o desmatamento das beiras dos nossos rios e córregos, mas no mesmo tempo parabenizamos os programas e projetos que visam à reflorestação das áreas ribeirinhas, como na região do Rio Buriti, casa Azul e outros lugares.

Nós pedimos, com muita angústia, aos nossos governantes e ao próprio IBAMA, que faça todo o possível para que cesse esta situação de "ausência de Estado" e de falta de responsabilidade ecológica, para que as nossas populações e o seu meio-ambiente, no que ainda existe, sejam devidamente protegidos através da fiscalização e pela intervenção da própria força pública que não pode se satisfazer em prender aqueles que se envolveram nas confusões que aconteceram dentro da sede do nosso município, enquanto os agressores do meio ambiente e das suas populações andam soltos e até protegidos.

Nós pedimos a presença do IBAMA dentro do nosso município e não só através do escritório de Açeilândia onde lideranças, quando pedem intervenção, não encontram a devida atenção, sendo exigidas numerosas assinaturas para intervir enquanto é dever do IBAMA de se deslocar e fiscalizar de modo permanente conforme o que as leis exigem.

Neste tempo de Epifania que celebrou a nossa Igreja, nos sentimos convidados a escutar o grito dos nossos povos e das nações do mundo representadas pelos Reis pedindo o cuidado de nossa natureza, oferecendo aos que cultivam a terra os recursos financeiros e técnicos para que se torne viável para todos a posse da terra que Deus fez, a fim que seja cultivada para o bem de todos e não só de alguns e que não nos tornemos, nos aliando com os Herodes, cúmplices dos seus projetos que levam à morte.

Nos referimos, para encerrar, ao documento dos bispos do nosso Continente, reunidos em Aparecida do Norte no mês de maio do ano passado, especialmente no n° 473 : "A devastação de nossas florestas e da biodiversidade, mediante uma atitude predatória e egoísta, envolve a responsabilidade moral daqueles que a promovem, porque coloca em perigo a vida de milhões de pessoas e, em especial do hábitat dos camponeses e indígenas, que são expulsos para as terras improdutivas e para as grandes cidades para viverem amontoados nos cinturões de miséria. Nossa região tem necessidade de progredir em seu desenvolvimento agro-industrial para valorizar as riquezas de suas terras e suas capacidades humanas a serviço do bem comum. Porém, não podemos deixar de mencionar os problemas que uma industrialização selvagem e descontrolada causa...transformando as regiões exploradas em imensos desertos."

Que isso não seja o futuro de nossa Região e de nossa Terra Bela.

Sem mais nos despedimos e assinamos todos, participantes da primeira Assembléia paroquial do Ano Novo, neste dia 20 de janeiro de 2008.

Buriticupu, encerramento da Assembléia paroquial de Santa Luzia, dia 20 de janeiro de 2008.

p.s. Comunicamos esta carta-protesto à Comissão Pastoral da Terra (CPT Nacional) e ao Senhor Pedro Marinho, da CPT diocesana

(Seguem as assinaturas dos participantes)

(CEBs-MA *, Adital, 25/01/2008)
* Comunidades de Base da Paróquia de Santa Luzia, Buriticupu