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desmatamento da amazônia
2008-01-29
Os números do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgados pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) sobre o aumento do desmatamento entre agosto e dezembro de 2007 vêm sendo questionados pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).  Os dados apresentados indicam que o desmatamento real é bem maior, da ordem de 7.000 km2, com uma variação para mais ou para menos de 1.400 km2.

Segundo Dalton de Morrison Valeriano, coordenador do Programa Amazônia do Inpe, em entrevista à Folha de S. Paulo, o valor foi obtido a partir da extrapolação dos dados do Deter.  Segundo o pesquisador, esse valor de 3.235 km2 "representou entre 40% a 60% do que é registrado pelo Prodes, nosso sistema que faz o cálculo anual detalhado da área desmatada".

Os dados de desmatamento disponibilizados pelo Inpe sugerem que nos cinco últimos meses do ano passado a maior parte das derrubadas no Acre foram superior a 82% e ocorreram depois do início do período chuvoso que ocorrem a partir de outubro.  Em dezembro, por exemplo, segundo dados do Inpem, foram derrubados 28 km² de vegetação no Acre, ante 8 km² em agosto.  Isso representa um aumento de mais de 300%!

Adalberto Veríssimo, do Imazon, afirma que "se as projeções do MMA estiverem corretas, nos últimos cinco meses de 2007 cortou-se 62% de tudo o que se cortou no ano passado".

Quem trabalha na região Norte sabe que o período mais apropriado para se fazer derruba é nos meses de verão, e mesmo assim existe um grande número de acidente de trabalho, além de mortes.  No inverno, além das chuvas sazonais, existem as dificuldades da retirada da madeira pelos ramais, pois o terreno é muito liso, tornando o trabalho mais propício a acidentes.

Felizmente, se os dados apresentados para a imprensa, quanto ao desmatamento verificado na Amazônia como um todo, no período de agosto a dezembro de 2007, não refletem a realidade do desmatamento, cedo ou tarde as áreas derrubadas serão encontradas por imagens de satélites de boa qualidade e obrigatoriamente incluídas na estatística anual de desmatamento.

A pecuária como vilã
Pelo que publicou o jornal Folha de S. Paulo na sexta-feira, 18, em Mato Grosso novos focos de desmatamento estariam próximos a áreas de cultivo de soja, a commoditie que registrou aumento de preços no decorrer do ano passado.  Segundo a notícia, no Pará a derrubada de floresta seria associada à expansão da pecuária.

O diretor do Inpe, Gilberto Câmara, disse que o futuro da Amazônia vai depender do controle da expansão da pecuária no Pará, estado que registrou o maior crescimento do rebanho no país.  "A gente sente nitidamente a falta de engajamento, um corpo mole do Ministério da Agricultura", disse o diretor ao se referir às dificuldades de rastreamento da origem do gado criado naquele estado.

Para o diretor do Inpe, as culturas de soja e cana-de-açúcar teriam papel importante, porém indireto no desmatamento, ao ocuparem áreas de pastos e empurrarem a pecuária em direção à floresta.  Os novos dados do Inpe são estimativas feitas pelo instituto com base em sistema que capta o desmatamento em tempo real, chamado de Deter.

O mais agravante de tudo isso é que, pelo que tudo indica, desmatamento pode estar aumentando na Amazônia por incentivos ao crescimento da pecuária na região dados por bancos estatais nacionais, como o Banco da Amazônia (Basa), e estatais internacionais, como é o caso do Banco Mundial (Bird).  Isso é o que mostra duas importantes matérias publicadas pelo jornal O Estado de São Paulo e pela Agência Estado.

A matéria "Com estímulo oficial, floresta vira capim", publicada no domingo, 13/01, no Estadão, assinala que portes distintos de pecuaristas do Pará, indo dos micro aos grandes, receberam no ano passado R$ 80 milhões do Pronaf (Programa Nacional de Agricultura Familiar) e do FNO (Fundo Constitucional do Norte) para expandirem suas atividades, que implicaram no aumento do desmatamento.

Na matéria, o Imazon assinala que de 2003 a 2007 os pecuaristas da região Norte teriam sido beneficiados com R$ 1,89 bilhão só do FNO.  O que é mais grave, segundo a matéria, existe uma norma interna do Basa que autoriza a dispensa de comprovação de reserva legal de florestas na contratação dos empréstimos (estudos de impacto ambiental incluindo a preservação das Áreas de Preservação Permanentes - APPs).  Para financiar a pecuária e estimular a derrubada da floresta, os recursos do Basa ainda são com juros subsidiados (entre 0,5% e 10,5%), considerados os mais baratos do país.

(Por Raimundo Cavalcante, A Tribuna, 26/01/2008)


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