O presidente licenciado de Cuba, Fidel Castro, defendeu a produção de alimentos pelo Brasil e condenou a produção de biocombustíveis na conversa de duas horas e meia que teve com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 15 deste mês, em Havana. Trechos do diálogo foram relatados pelo líder cubano em três reflexões publicadas no jornal Granma, órgão do Partido Comunista Cubano.
Em artigos anteriores, Fidel havia criticado a produção de biocombustíveis em detrimento do cultivo de grãos – insinuou, inclusive, que isso teria sido defendido pelo presidente norte-americano, George W. Bush, em encontro com Lula em Camp David, nos Estados Unidos, em março do ano passado. Agora, o líder cubano aproveitou o reencontro com o presidente brasileiro para convencê-lo do contrário.
Na conversa, o líder cubano cita "as importantes reservas de petróleo cru" descobertas recentemente pela Petrobras e lembra que a população mundial precisa cada vez mais de alimentos, dos quais o Brasil é grande exportador. “Se se dispõe de grãos ricos em proteínas óleos e carboidratos - que podem ser frutos como a castanha de caju, a amêndoa e o pistache, raízes como o amendoim, a soja com mais de 35% de proteína, o girassol ou cereais como o trigo e o milho –, é possível produzir a carne ou o leite que desejares”, ponderou Fidel.
E acrescentou: “Vocês têm tem agora as duas coisas: fornecimento seguro de combustível, matérias primas alimentícias e alimentos elaborados”. Ele disse ainda ter argumentado que os Estados Unidos estão retirando do mercado uma grande quantidade de milho para produzir etanol.
Lula explicou que o Brasil não depende do milho, como os Estados Unidos e o México ou a América Central, e disse acreditar que a produção de biocombustível à base de milho não se sustentará nos Estados Unidos. “Isso confirma uma realidade com relação à subida impetuosa e incontrolável dos preços dos alimentos que afetará muitos povos”, diz Fidel. Em outro trecho da conversa, relatado em artigo publicado no último domingo (27/01), Lula frisa que o Brasil tem uma situação privilegiada, pois, de seus 850 milhões de hectares de terra, 400 milhões são bons para agricultura. E a cana-de-açúcar, informou Lula, ocupa apenas 1% destas terras – a cana é a matéria prima utilizada para a produção brasileira de etanol.
Fidel e o presidente brasieliro também conversaram sobre integração e os rumos da esquerda latino-americana. Observando o velho amigo, Fidel lembra de quando se conheceram, em Manágua, em 1980, por ocasião do primeiro aniversário da Revolução Sandinista – que acabou com 45 anos de ditadura na Nicarágua. E evita falar sobre o processo político brasileiro para que não pareça interferência em assuntos internos do país.
É Lula quem comenta: “Você se lembra, Fidel, quando falamos do Foro de São Paulo e me disseste que era necessária a unidade da esquerda latino-americana para garantir nosso progresso? Pois já estamos avançando nessa direção”. Lula ainda comentou sobre o que Fidel definiu como “elevado nível das relações internacionais”do Brasil, enumerou avanços do país em diferentes áreas e “falou com veemência sobre as obras sociais do Partido do Trabalhadores”, revela o líder cubano.
(Por Mylena Fiori, Agência Brasil, 28/01/2008)