No jornal Folha de S. Paulo deste domingo (27/01), o chefe-substituto do Ibama em Alta Floresta (MT), Cláudio Cazal, afirma que fazendeiros e madeireiros da Amazônia não têm medo de multas e nem de embargos. Na reportagem do jornalista Rodrigo Vargas, em Alta Floresta, a 830 quilômetros de Cuiabá (MT), o chefe-substituto do escritório local do Ibama, Cláudio Cazal, 29 anos, afirma que as medidas emergenciais anunciadas pelo governo para conter o desmatamento na Amazônia “são inócuas e muito distantes da realidade enfrentada pelos servidores que respondem pela fiscalização nas áreas mais críticas”.
“Esse anúncio (das medidas emergenciais) só mostrou o quanto Brasília desconhece a realidade da Amazônia, é uma espécie de autismo”, criticou o funcionário à FSP. Mais de 3 mil quilômetros quadrados de floresta na Amazônia foram derrubados nos últimos cinco meses de 2007, segundo anúncio do próprio governo semana passada, o que levou a uma reunião de emergência do presidente Luis Inácio Lula da Silva, a ministra do meio Ambiente, Marina Silva, e outras autoridades.
O governo decidiu então suspender as autorizações para desmatamento nos 36 municípios da Amazônia legal que foram responsáveis por 50% de toda a derrubada de árvores neste período. Mas o servidor questiona: “De que adianta bloquear autorizações de desmate em uma região em que a maior parte das derrubadas são feitas sem autorização? Embargo de propriedades já fizemos há muito tempo. O que não temos é estrutura para retornar às áreas para verificar se o embargo está sendo cumprido”, desabafou Cláudio Cazal ao repórter da FSP.
O escritório do Ibama em Alta Floresta é responsável pela fiscalização de crimes ambientais em 13 municípios da região norte do Mato Grosso, uma área superior aos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo juntos, diz o jornal. Seriam necessários ao menos 50 servidores para fazer cumprir as tais medidas de emergência, mas são apenas três e sem nenhum carro atualmente. Os quatro veículos do escritório estão quebrados.
“Se precisássemos sair agora, não teríamos condição, essa é a realidade”, admite Cláudio Cazal. Outro dia, contou, um dos carros teve problema mecânico num local isolado. Para buscar ajuda, o absurdo aconteceu: a equipe teve que pedir carona para caminhoneiros de madeireiras ilegais. Fazendeiros, madeireiros, ninguém tem medo de multa ou embargo, porque sabem que não há fiscalização suficiente. “A multa eles protelam e não pagam. O embargo não respeitam, eles só temem a perda de bens e a cadeia.. Mas isso nunca acontece”, relatou o funcionário do Ibama.
(EcoAgência, com informações do jornal Folha de S. Paulo, 29/01/2008)