O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, pediu aos líderes empresariais e políticos reunidos no Fórum Econômico Mundial que acordassem metas para serem cumpridas no prazo de três anos como passo intermediário dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Entre essas metas – cujo prazo seria 2010, cinco anos antes do estabelecido para os objetivos acertados em 2000 pela comunidade internacional – Ban incluiu tirar 75 milhões de africanos da pobreza, bem como dar escola a outros 25 milhões e salvar a vida de quatro milhões de meninos e meninas.

Ban também propôs estabelecer pessoal médico qualificado para atender 35 milhões de partos e instalar serviços de água potável para 70 milhões de pessoas nos próximos três anos. Foram cumpridos apenas 30% do acordado, lamentou o secretário-geral. “Sem um esforço extraordinário não atingiremos os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio”, ressaltou. Estas metas foram estabelecidas na Cúpula do Milênio, como ficaram conhecidas as sessões inaugurais da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas de setembro de 2000, na presença de numerosos chefes de Estado e de governo.

Os objetivos incluem reduzir à metade a proporção de pessoas que vivem na indigência e sofrem fome, bem como conseguir a educação primaria universal; promover a igualdade de gênero; reduzir em dois terços a mortalidade infantil e a materna em três quartos até 2015, com relação aos números de 1990; combater a expansão do HIV/Aids, da malária e outras doenças; assegurar a sustentabilidade ambiental e gerar uma sociedade global para o desenvolvimento entre o Norte e o Sul. A quantidade de pessoas na indigência chega hoje a um bilhão de pessoas.

O cumprimento das metas do milênio são uma “emergência do desenvolvimento”, destacou Ban em uma sessão especial do FEM, que começou quarta-feira e terminou ontem na localidade turística suíça de Davos. Outros participantes da sessão especial foram o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown; o presidente da Nigéria, Umaru Musa Yar’Adua; a rainha da Jordânia, Rania al-Abdullah; o presidente da companhia Microsof, Bill Gates, e o vocalista da banda U2 Bono. O mundo deve “rededicar” o ano de 2008 a abordar os problemas de milhares de milhões de pessoas que vivem com menos de um dólar por dia, destacou Ban.

Por um momento, os que movem os fios da política e das finanças do mundo se afastaram de suas preocupações habituais de obter lucro e se concentraram nos problemas dos desfavorecidos. Mas, não acordaram muito. Bono foi muito crítico com o fracasso do cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. “O tempo dos acordos morais e da persuasão moral para cumpri os objetivos acabou há muito tempo”, ressaltou. Também perguntou se os governos e o mundo empresarial estavam dispostos a aceitar “compromissos obrigatórios com vistas a alcançar as metas até 2015”.

Bono, que encabeça a campanha “Debt, Aids, Trade, Africa” (Data, sigla em inglês de Dívida, Aids e Comércio na África) pediu ações para atingir os objetivos. Porém, não houve respostas ao seu pedido de compromissos obrigatórios. Apenas ficou acertado convocar uma sessão especial da Assembléia Geral em setembro para discutir a lenta implementação dos objetivos do milênio. Não faltaram os renovados pedidos de ação. O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, se comprometeu a convoca um encontro global do setor privado em maio para anunciar novas medidas de apoio às metas do milênio. Por sua vez, Bill Gates pediu uma ação conjunta entre o setor privado e o governo.

Os assuntos relacionados com pobreza não recebem o mesmo tratamento que a crise financeira dos bancos que dominaram o fórum de Davos deste ano, protestou o ativista Kumi Naidoo, secretário-geral da organização não-governamental internacional Civicus, que lidera o Chamado Global à Ação contra a Pobrza (GCAP), coalizão internacional que agrupa várias entidades em mais de cem países. “Há um duplo discurso na forma com que são abordados os problemas dos Estados Unidos em comparação com as lastimosas condições de vida na África”, disse à IPS.

(Por Ravi Kanth Devarakonda, IPS, 28/01/2008)