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extinção de espécies
2008-01-29
Os jaguares não têm um lugar nos Estados Unidos, embora vários perambulem pelo sudoeste desse país. Os ambientalistas suspeitam que a razão pela qual os funcionários norte-americanos deixarão que estes animais se extingam é o muro que está sendo construído na fronteira com o México. Durante muito tempo os ecologistas alertaram que esse muro (na realidade, uma série deles) terá grandes impactos na natureza frágil e única da região. “Não há dúvidas de que o jaguar, ou onça-pintada (Panthera onca), nos Estados Unidos e no norte do México, será afetado de modo significativo pelo muro”, disse Joe Cook, especialista em mamíferos da Universidade do Novo México.

“Os poucos jaguares norte-americanos que restam são parte de uma população maior baseada na região setentrional do México”, disse Cook ao Terramérica. O muro impedirá o movimento de jaguares para o norte e o sul, reduzindo consideravelmente a diversidade genética dos animais presos em cada lado. Essa perda de variedade aumentará sua vulnerabilidade às doenças e a outras mudanças ambientais, acrescentou. “A única esperança de preservar grandes carnívoros na natureza é ter grandes áreas de hábitat contínuo, não fragmentado”, ressaltou Cook.

Os jaguares perambularam pelo sul dos Estados Unidos, da Louisiana até a Califórnia, durante milhares de anos. No final do século XIX e durante boa parte do século XX, esforços de controle de predadores dizimaram suas populações até restarem pouquíssimos animais, convertendo-os em uma espécie altamente ameaçada. As leis norte-americanas sobre espécies ameaçadas requerem que o Serviço Federal de Pesca e Vida Silvestre desenvolva um plano para ajudar a recuperar os jaguares. Isso nunca ocorreu e organizações ambientalistas, como o Centro para a Diversidade Biológica, reclamam sua criação.

Entretanto, o Serviço Federal anunciou, no dia 17 de janeiro, que abandona todos os esforços de recuperação do jaguar, alegando que os Estados Unidos representam apenas uma pequena parte da área de influência do animal. Essa justificativa não só é pobre do ponto de vista cientifico como também cria um precedente para nações menores e mais pobres argumentarem que, como são apenas uma pequena parte da área de influência do animal.

Esta justificativa não apenas é pobre do ponto de vista científico, como também abre um precedente para que nações menores e mais pobres argumentem que, como são só uma pequena parte da região habitada pelos jaguares, ou qualquer outro animal, não deveriam ser obrigadas a proteger espécies ameaçadas, disse Cook. “O governo Bush foi nefasto em relação à conservação dos recursos naturais dos Estados Unidos”, enfatizou o especialista.

“O maior felino do novo mundo está se extinguindo por toda a América do Norte e do Sul, e, em lugar de desenvolver um plano para salvá-lo, o governo Bush constrói um muro para mantê-lo afastado para sempre dos Estados Unidos”, disse Kieran Suckling, diretor de Políticas do Centro para a Diversidade Biológica. Se houvesse um plano de recuperação do jaguar, seria possível, inclusive, retardar ou forçar a realocação de grandes projetos, como as novas minas, estradas ou a construção de um muro extremamente longo na fronteira com o México.

“É um esforço com pouca visão querer manter os cidadãos mexicanos fora dos Estados Unidos com um muro militarista que se estende também aos animais do México”, afirmou Suckling ao Terramérica. A fronteira entre os dois países, de 3.141 de comprimento, atravessa uma região de grande biodiversidade que inclui deserto, florestas de mangue, planícies, montanhas, vales fluviais, pântanos, cidades e povoados. Essa área abriga muitas espécies raras e ameaçadas. E agora muros e barreiras, junto com estradas, holofotes e centrais elétricas sendo construídas ao longo de grandes áreas da mesma, sem nenhuma avaliação ambiental, alertou ao Terramérica Laura López-Hoffman, ecologista da Universidade do Arizona.

Esta especialista, também ligada à Universidade Nacional Autônoma do México, é parte de um grupo de cientistas que, dos dois lados da fronteira, tentam realizar um estudo de impacto ambiental do muro. Mas este é construído mais rapidamente do que eles conseguem recolher dados. “O melhor que podemos fazer é criar modelos hipotéticos dos impactos potenciais. Coletar dados sobre as respostas reais das espécies levará outros dez anos e será muito tarde”, afirmou López-Hoffman. Não há dúvidas de que o muro terá profundos impactos ecológicos, impedindo o deslocamento de muitas espécies, além dos jaguares.

As áreas serão destruídas durante a construção do muro e das novas estradas. Espécies transfronteiriças, como pássaros e morcegos, serão afetadas por qualquer iluminação ao longo do muro. Mesmo antes do muro, o Serviço de Fronteiras causou muitos danos, entre eles a queima de amplas áreas para melhorar a visibilidade, criação de obstáculos em corredores naturais e obstrução de vales, cânions e estuários, acrescentou López-Hoffman. No México, os ecologistas também vêem o muro como uma barreira para a colaboração em questões ambientais transfronteiriças, destacou a ecologista. “Será mais difícil para os cientistas norte-americanos e mexicanos trabalharem juntos em assuntos hídricos e nos impactos da mudança climática, que se espera atingirão duramente a região”, ressaltou.

(Por Stephen Leahy*, Terramérica, 28/01/2008)
* O autor é correspondente da IPS.


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