A Rede de Ação em praguicidas e suas alternativas para a América Latina e a Aliança por uma melhor qualidade de vida denunciaram que, no último dia 16, treze agricultores foram intoxicados em Pelarco (Região de Maule). O local em que os trabalhadores foram infectados pertence à empresa Sociedade Agrícola Beyce, produtora de sementes para a Massai Agricultural Services.
A intoxicação foi resultado da ação do inseticida Zero 5 EC, um piretróide de ANASAC e o local já foi fechado pelas autoridades do trabalho. A Massai exporta sementes híbridas e transgênicas. Essa produção de milho e soja provém, entre outras, de sementes importadas da Monsanto e Syngenta. Ao contrário do que afirmam os defensores dos transgênicos, o uso de praguicidas não diminui nesse tipo de cultivo.
A responsável pela Saúde Regional Metropolitana de Maule, Sofía Ruz, iniciou dois processos sanitários: um contra a empresa agrícola, e outro contra a Fumital, encarregada pela fumigação, para estabelecer responsabilidades. Não se sabe ainda se a fumigação estava autorizada para terça ou quarta-feira. Além disso, determinou-se uma multa de $3.500.000 para uma das três empresas envolvidas no caso.
Também não se sabe ainda se os trabalhadores foram alertados a respeito da fumigação, que seria feita no local em que trabalham, os riscos, o período de carência, a reentrada e os antídotos que deveriam ser usados em caso de intoxicação.
"O investimento tem um montante de 4,5 bilhões de dólares. É preocupante o duplo padrão dessa empresa, que em sua página de internet diz ter o certificado ISO9001-2000, que implica cumprir minimamente toda a regulamentação e legislação vigentes. Entretanto, é reincidente nessas faltas. No ano de 1997, no fundo Massai, próximo a Santa Elena, foi registrada também a intoxicação de dez trabalhadores", disse a denúncia.
Assim, não só os cultivos tradicionais e nativos podem ser contaminados e sofrer mutações, como a vida dos próprios trabalhadores está em risco. Só no ano passado, segundo dados do Ministério da Saúde - divulgados no mesmo dia e que foi constatada a intoxicação - 710 pessoas foram contaminadas com praguicidas. Na Região de Maule, foram 60 casos.
Entre os meses de março e setembro, há os maiores índices de intoxicação. Segundo a denúncia das organizações, os praguicidas responsáveis pelos envenenamentos são -em 39% dos casos- organofosforados, que a Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica como 1a e 1b (extremada e altamente perigosos). No entanto eles ainda não foram proibidos no país, pois isso depende de um projeto de lei que o Senado ainda não votou.
Os empresários e o Governo chilenos estão em forte campanha para pressionar o Senado a aprovar, o já aprovado em primeiro trâmite, Projeto de Lei, que pretende liberar os cultivos transgênicos no país. Hoje, só podem ser transgênicas as sementes para exportação.
A denúncia criticou ainda o fato de que, apesar dos investimentos milionários anunciados e da moderna tecnologia utilizada, a Massai Agricultural Services não mostra prolixidade no controle de sua cadeia produtiva, com as implicações que esse tem para a saúde dos trabalhadores rurais.
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Adital, 25/01/2008)