"O Réveillon foi maravilhoso. É verdade que a cidade estava lotada, até acima da sua capacidade ao meu ver, mas ainda assim fantástica", conta Laura Salerno, moradora de Florianópolis. O estado de espírito de Laura é emblemático de quem mora ou visita a cidade. Os problemas são evidentes. Mas os encantos de Floripa, especialmente de sua parte que corresponde à Ilha da Magia, fazem do desejo de voltar ou seguir vivendo ali algo mais forte que as dificuldades que se desenham no horizonte da cidade. O "ainda" utilizado por Laura na frase, contudo, já merece maior atenção das autoridades quanto ao ritmo do crescimento do município e do recebimento de turistas.
A quantidade e diversidade de praias, paisagens, restaurantes, trilhas e outras atrações existentes em Florianópolis trazem ao visitante não só a deliciosa paixão à primeira vista, mas também aquela intensa e incurável vontade de quero mais. Algo que a cidade, especialmente a Ilha, precisa se planejar e estruturar para acolher, sem prejuízo justamente ao que atrai ano a ano os milhares de visitantes e novos moradores.
Soraya Dávila Silveira mudou-se há alguns anos do Rio Grande do Sul para Floripa. Ela acompanhou o crescimento recente dos últimos anos, mas nem por isso deixa de se impressionar com a quantidade cada vez maior de turistas que visitam a cidade no verão. "Passei a virada aqui e nunca vi tanta gente!". A mobilidade, já naturalmente mais restrita - a cidade é palco de intensos debates e embates em vários campos, e os transportes públicos são um dos casos de maiores choques -, tornou-se um caos, com o aporte de dezenas de milhares de carros. Soraya diz que, no Réveillon de 2007, as histórias de pessoas que perderam no trânsito belas horas e animados programas (ela inclusive), se espalharam por toda a Ilha, do Norte ao Sul.
Floripa possui mais de 40 praias, com opções para todos os gostos, da tranqüilidade das praias ao Sul à badalação da Joaquina e Praia Mole; do mar calmo de Jurerê e Canasvieiras às boas ondas para o surfe nas praias de Moçambique, Santinho e Morro das Pedras. As trilhas e a natureza são igualmente exuberantes, merecendo até um olhar à parte.
A gastronomia é outra atração que colabora para que a Ilha da Magia se coloque como provável destino para muitas viagens. Entre as várias alternativas da culinária baseada em frutos do mar, vale reservar espaço na viagem para provar a abundante seqüência de camarões, especialidade da região da Lagoa, assim como a seqüência de frutos do mar atrai os que vão à Costa da Lagoa.
As possibilidades para todos os bolsos são outra qualidade da gastronomia da cidade. As escolhas ficam ao bolso e ao gosto do cliente em locais como o Bar do Arantes, no Pântano do Sul, ou no Mercado Municipal - berço por exemplo do badalado Box 32 e do aconchegante Spinoza. O desfecho perfeito de um dia de passeios pode ser desde um caprichado peixe ao forno, uma porção de ostras frescas ou uma singela casquinha de siri.
O final do dia, contudo, pode não ser tão divertido se faltar água ou luz no local de hospedagem. Em sua edição de 2 de janeiro, o jornal Diário Catarinense demonstra que o problema da falta de água atingiu na época do Ano Novo todas as opções de estada, dos campings às pousadas mais estruturadas, passando pelas casas de veraneio. As soluções para enfrentar o problema descritas no jornal soam preocupantes, especialmente se encaradas sob a perspectiva da importância que o turismo já desempenha e pode desempenhar na cidade e no Brasil. Banhos de 2min, reservatórios de milhares de litros, chamados a caminhões-pipa e compra de garrafas d'água para a escovação dos dentes estão entre as principais. O jornal também registra que o grau do problema varia de acordo com a distância do centrinho dos bairros, e que a seca na torneira pode durar tanto apenas algumas horas quanto também alguns dias.
Segundo dados fornecidos pela assessoria de imprensa da Casan (Companhia Catarinense de Água e Saneamento), 96% dos domicílios do município contam com abastecimento de água. A empresa explica que na época do Réveillon a demanda por água fica cerca de 40% maior que a média diária verificada durante o ano. A empresa recomenda que se verifique as condições do imóvel ou do local de hospedagem antes do aluguel, assim como se atente para o tamanho da casa em relação à quantidade de pessoas que viajará.
Os problemas causados no início do ano em Santa Catarina pelo intenso fluxo de turistas e falta de infra-estrutura não se restringiram a Florianópolis. Camila Stähelin, que mora em São José, na Região Metropolitana de Floripa, passou a virada de ano na praia da Pinheira, em Palhoça (SC). "Fazia anos que não passava com a família e foi super bacana. Por outro lado, faltaram água, luz, o trânsito era interminável... tudo meio caótico".
Camila diz que sua casa "serviu de refúgio para amigos, que, devido à falta de água, estavam há dias sem conseguir tomar banho na casa em que alugaram". Ela relata que parte das pessoas na Pinheira acreditava que os momentos em que a praia ficou sem energia foram causados por uma suposta necessidade de priorizar Florianópolis no fornecimento.
Procurada pela reportagem para comentar esse suposto favorecimento à capital catarinense na política de distribuição de energia na época do Réveillon, a Celesc (Centrais Elétricas de Santa Catarina) explicou por meio de sua assessoria de imprensa que o problema na Pinheira foi causado pelo rompimento de um cabo. No que diz respeito aos problemas de fornecimento em bairros de Floripa, a assessoria explica que "não houve apagão" ou problemas mais significativos, que eram realmente temidos. De acordo com a Celesc, os investimentos em ampliação do sistema e à campanha voltada à economia de energia deram ótimos resultados. Assim, os problemas relatados teriam sido causados essencialmente pelas fortes chuvas de verão e por acidentes como batidas de veículos em postes da rede elétrica.
(Por Antonio Biondi, Especial para o
UOL, 25/01/2008)