A seca que afeta o sul de Angola já provocou quatro mortes na província de Huila, onde não chove desde novembro, enquanto em outras regiões várias famílias foram afetadas pela fome, informam as autoridades locais. As primeiras quatro mortes associadas à seca foram relatadas pela Rádio 2000, da cidade de Lubango, capital de Huila, e ainda pelo jornal Cruzeiro do Sul, que confirmaram a informação junto às autoridades de administração municipal. Em plena época das chuvas, há ainda registro de milhares de hectares de culturas perdidas, e os apelos por parte da população para que o governo angolano interceda se sucedem.
Em Huila, o último registro de chuva, em pequena quantidade, é de novembro, comprometendo seriamente as colheitas deste ano, que são a garantia de subsistência de milhares de famílias camponesas. As culturas mais afetadas na província de Huila são milho, batata e algumas frutas. Já na vizinha Namibe - que faz fronteira com o deserto da Namíbia - e no litoral do país, os números apontam para centenas de cabeças de gado perdidas e milhares em risco.
No litoral sul de Angola, o impacto da seca está sendo sentido também em outros setores, declarou à Rádio Morena Comercial o governante de Namibe, Manuel Valentim. Um dos exemplos são as escolas. O ano letivo ainda não começou normalmente porque, como a região é de pastoreio, as crianças estão sendo matriculadas. Em busca de pastagens, os pais foram obrigados a levar o gado para longe de casa.
Os poucos locais onde ainda existe algum pasto estão sendo totalmente aproveitados, a ponto de as imediações do aeroporto do Namibe estarem ocupadas por centenas de animais, constituindo um risco para as aeronaves que usam a pista, disseram à Lusa as autoridades aeroportuárias. A estiagem em Namibe está ainda levando alguns criadores de gado a se deslocarem para o norte, em direção à província de Benguela, sendo já visível um elevado número de rebanhos no município de Chongoroi, na zona de fronteira.
Em Chongoroi, a fome já está afetando severamente centenas de famílias por causa das perdas de mais de 50% das culturas de milho, mandioca e feijão, afirmou à Lusa o administrador municipal, António Kayete. António Kayete relatou que o grau de desnutrição entre a população local "já é muito elevado" e lançou um apelo às organizações nacionais e internacionais para que atuem no local de forma a "evitar que a situação ganhe dimensão de catástrofe humana".
Os municípios mais afetados em Benguela são Chongoroi, Cubal, Ganda, Caimbambo, Bocoio e Balombo, todos no extremo sul da província, fronteira com Namibe. Contatadas pela Lusa, algumas organizações não-governamentais que mantêm projetos ligados à agricultura dizem se sentir incapacitadas para atuar por "falta de articulação" com as autoridades administrativas provinciais.
Face à prolongada estiagem no sul de Angola, os produtos que formam a base da alimentação da população têm sofrido "rápidos e constantes" aumentos, apontam estas ONGs. Exemplo disso é a farinha de milho, que representa 50% da dieta da população rural nas províncias de Benguela, Kwanza-Sul e Huila. Em poucas semanas, o quilo passou de 45 kwanzas (R$ 1) para 100 kwanzas (R$ 2,40).
O mesmo cenário pode ser visto na província do Kwanza-Sul, onde as primeiras sementeiras foram perdidas "quase na totalidade", disse à Lusa fonte de uma associação comunitária de agricultores. A esperança nesta província reside no "ainda possível sucesso das novas sementeiras" caso volte logo a chover. Em 2006, a região sul de Angola já havia sido assolada pela seca, embora com um impacto menor do que o sentido este ano.
Como resposta ao problema que acontece em intervalos cada vez mais curtos, o ministro angolano da Agricultura e do Desenvolvimento Rural, Afonso Kanga, anunciou, em Benguela, a construção de estruturas de apoio à produção, como sistemas de irrigação nas províncias do país mais afetadas pela estiagem. O governo estima que, nos próximos anos Angola, tenha mais 100 mil hectares irrigados para combater as dificuldades dos agricultores.
O ministro explicou que as famílias afetadas pela seca estão sendo acompanhadas e apoiadas com novas sementes e ferramentas para que possam aproveitar, com sucesso, as segundas colheitas, que dependem da melhoria nas condições meteorológicas. Afonso Kanga garantiu ainda que o governo tem condições para prestar assistência à população no que diz respeito à sua alimentação.
(Lusa,
UOL, 27/01/2008)