Após ter sido baleado por caçadores na comunidade Vila Amazônia, em Parintins (AM), e ter conseguido sobreviver por pelo menos dez dias, um gavião real adulto com cerca de 90 centímetros de altura morreu no início desta semana, instantes antes de ser operado no Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), em Manaus. “Com o tiro, ele deve ter caído de uma altura de 30 ou 40 metros, mas a causa da morte se deve em função do tempo que levou para obter ajuda veterinária", explicou o veterinário do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) Carlos Abrahão.
Esse é um dos casos atendidos pelo Núcleo de Faunas do Ibama, em Manaus. Desde que foi criado, em 1989, o núcleo atendeu pelo menos 22 mil animais. Isso representa uma média de 1,2 mil por ano para apenas cinco profissionais, dos quais apenas dois são veterinários. “A falta de mais profissionais, aliado aos custos para fazer o transporte dos animais estão entre os principais problemas da rotina de trabalho”, avalia Abrahão. "Contamos com a ajuda dos escritórios regionais também para que, se possível, o tratamento do animal seja feito no local."
Segundo o Ibama, os crimes contra os animais silvestres são comuns na região amazônica. Apesar de ser uma das espécies listadas pelo Ministério do Meio Ambiente entre os animais com altíssimo risco de extinção, o gavião real continua sendo alvo de caçadores no interior da Amazônia. A espécie é uma das maiores aves de rapina do mundo e vive em áreas de florestas do sul do México ao nordeste da Argentina. No Brasil, está presente na Amazônia, no Cerrado, no Pantanal e na Mata Atlântica.
De acordo com o Núcleo de Faunas do Ibama em Manaus, geralmente esse tipo de ave é baleado por medo de possíveis ataques ou mesmo para servir de alimento para a população local. “A caça não se restringe ao gavião real. Todos os anos, recebemos tartarugas, jacarés, preguiças, pássaros e muitos outros bichos machucados pela ação do homem. Devemos respeitar a natureza, até porque, em muitos casos, é o homem quem invade o meio ambiente do animal", alerta Abrahão.
Para atender a esse tipo de situação no Amazonas, o Ibama conta com o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas). Lá, a equipe atende todos os animais encaminhados para receber o tratamento adequado em cada caso. Após o total restabelecimento do animal, ele passará por uma avaliação que decidirá pela recondução à natureza ou a transferência para zoológicos ou criadouros. “Tem casos em que o animal não tem condições de voltar apara a natureza", explica o veterinário do Ibama.
De acordo com Lei de Crimes Ambientais, de 1998, a multa para quem pratica a caça ilegal de animais varia entre R$ 500 e R$ 5,5 mil por animal abatido. A medida vale também para os que buscam as penas de pássaros silvestres para confecção de adornos ou outros objetos.
(Por Amanda Mota, Repórter da Agência Brasil, 27/01/2008)