O diretor de Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, Roberto Smeraldi, comentou hoje a divulgação dos dados parciais do sistema DETER do INPE a respeito do desmatamento entre agosto e dezembro de 2007. Os dados registraram a conversão de mais de 3.500 kmq de floresta no período, com picos incomuns nos meses de novembro e dezembro, quando normalmente o desmatamento cai por conta da época de chuva. O governo estima que o desmatamento real tenha atingido os 7 mil kmq nesses cinco meses.
"Isso só é surpresa para quem possivelmente acreditasse em Papai Noel e, ainda, não tivesse lido nossas análises desde agosto passado, quando alguns comemoravam" - comenta o ambientalista ao site amazonia. "Aliás, nem é o caso agora de dramatizar. Simplesmente acabou, como bem se sabia, o estoque de terras desmatadas sobrando da overdose de 2002-04, os preços retomaram e o desmatamento volta a seu patamar normal. Nosso estudo da pecuária já mostrou a queda do rebanho em 2006 e a explosão no abate em 2007. Por sinal, com uma capacidade industrial instalada para quase 12 milhões de abates/ano e um preço da arroba que pode beirar os R$ 90 ao longo do ano, a situação não vai melhorar". O estudo em questão, O Reino do Gado, mostrou uma expansão sem precedentes da atividade na Amazônia, e levou na semana passada o ministro Stephanes, da Agricultura, a reconhecer a omissão de sua pasta nos programas de uso de áreas alteradas.
Mas há de qualquer forma alguma mudança, reconhece o ambientalista. "A única verdadeira novidade é Rondônia: até julho de 2007, seu desmatamento era um quarto daquele do Pará, enquanto agora chegou ao mesmo nível do Pará, um estado cinco vezes maior. Isso é o resultado da explosão da especulação sobre terra a partir de julho de 2007, quando foram licenciadas as usinas do Madeira sem sequer estudar seus impactos no desmatamento e a questão fundiária. No resto, é apenas a retomada do padrão normal."
O presidente Lula convocou uma reunião emergencial e se discute quais seriam as medidas mais adequadas. "Como sempre - comenta Smeraldi - é preciso lembrar que a ação principal que o governo pode fazer não é parar o desmatamento, algo que está fora de seu alcance, e sim parar de estimular o desmatamento - com crédito, infra-estrutura, assentamentos, oferta de terra e impunidade - o que seria sim ao seu alcance. Mas é desde 1994 que lembramos, todo ano, que a ação não deve ser emergencial, e sim estrutural, porque isso não é como a venda de dólar pelo Banco Central, não adianta agir conjunturalmente. Aliás não precisa sequer fazer jogo de cena com supostas emergências, pois todos sabiam desta situação há meses e conheciam esses dados há pelo menos dez dias."
(
Amazonia.org.br, 24/01/2008)