A cidade Nova Timboteua é um dos 31 municípios do Pará que recebem, desde o último dia 14, a Operação Grão-Pará, primeiro pacote de ações do Projeto Rondon para 2008. Outros 13 municípios carentes do Piauí também recebem os rondonistas.
Em Nova Timboteua, a 200 quilômetros de Belém, equipes formadas por seis estudantes da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade Vale do Rio Doce (Univale), de Governador Valadares (MG), e quatro professores buscam estimular no município de pouco mais de 12 mil habitantes a consciência cidadã e o desenvolvimento local sustentável – eixos do Projeto Rondon.
“A questão do saneamento básico foi uma coisa que a gente chegou aqui, bateu o olho e não tínhamos dúvida de que era o maior problema”, afirma Jackson Pereira, professor de Engenharia Civil da Univale e rondonista pela primeira vez.
Ele destaca que a Região Norte apresenta um dos piores índices de saneamento básico do Brasil – piores, inclusive, do que os registrados na Região Nordeste. O professor garante que a verba para saneamento básico, destinada pelo governo federal, existe, mas que nem sempre os gestores têm conhecimento do recurso. “Todo ano a verba está lá e o município não vai buscar. O dinheiro fica sobrando”.
Francisco Alves, coordenador do Departamento de Pessoal da Prefeitura de Nova Timboteua, admite o pouco conhecimento sobre o assunto por parte da prefeitura, mas reconhece nas ações propostas pelos rondonistas esperança para que o esgoto pare de correr nas ruas da cidade em um prazo máximo de dez anos.
“A vinda do Projeto Rondon vai clarificar, dar suporte, embasamento e conhecimento de onde buscar esse recurso e de como fazer para buscá-lo”. Alves calcula que cerca de 90% dos municípios da região enfrentam o problema da falta de saneamento.
Para Nayanne Almeida, rondonista e aluna de Administração da Univale, o município apresenta uma realidade distante da que é de costume para a maioria dos colegas universitários engajados no projeto. Ela destaca outro problema constatado pelas equipes em Nova Timboteua – a deficiência no tratamento da água consumida pela população. “A gente viveu na pele a situação e é muito desagradável”.
Francisco Mendonça, morador do bairro Barão do Rio Branco, tem a principal rua da cidade como vista da janela de casa, bem como a infestação de urubus atraídos pelo esgoto que corre na avenida. Ele e a família pagam uma taxa de R$ 38 por mês à Companhia de Saneamento do Pará (Cosampa) para receber água potável, mas a situação só melhorou nos últimos dois meses.
“Nós tivemos problema. De novembro para trás, não tínhamos água aqui. A gente pagava todo mês, mas não tinha água. A gente paga R$ 38 para ter água todo dia. Ela chega umas 5h30 e vai embora às 21h. Aí, só no outro dia de novo”.
Antes de novembro do ano passado, a vizinha de Francisco, Luzia Gomes do Nascimento, lembra que precisava recolher a água do esgoto que corria na porta de casa para sobreviver ao clima quente da região. Ela diz que a taxa paga à Cosampa não é garantia de água potável.
As oficinas e ações do Projeto Grão Pará continuam até esta sexta-feira (25/01), último dia do Projeto Rondon nos municípios. Os rondonistas, entretanto, devem retornar à cidade e a outras nas proximidades de Belém em julho, se houver interesse por parte dos gestores em dar continuidade aos projetos. A prefeitura de Nova Timboteua já se manifestou a favor da proposta de retorno das equipes.
(Por Paula Laboissière,
Agência Brasil, 24/01/2008)