Os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que indicam a retomada do desmatamento na Amazônia, com a derrubada de 3.235 quilômetros quadrados da floresta de agosto a dezembro de 2007, mostram que as políticas públicas aplicadas na região ainda precisam de ajustes.
A avaliação é do professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), Paulo Artaxo.
“O governo brasileiro ainda não conseguiu mecanismos para ordenar o desenvolvimento da região amazônica”, afirmou ontem (24) o especialista em entrevista à Agência Brasil.
Mesmo ressaltando que o principal responsável pelo efeito estufa é a queima de combustíveis fósseis em países desenvolvidos, Artaxo considera que a volta do desmatamento em níveis elevados tem efeitos negativos para o Brasil nas negociações internacionais sobre emissão de dióxido de carbono.
“O Brasil tem que fazer a sua lição de casa e reduzir o desmatamento, e não simplesmente queimar a floresta e jogar para o ar sua rica biodiversidade”, disse o membro do IPCC.
O Ministério do Meio Ambiente (MMA) informou que o desmatamento detectado na Amazônia nos últimos cinco meses apresenta características de corte raso, ou seja, de derrubada das árvores para formação de pastagens, e não de queimadas. Segundo Artaxo, isso não diminui, mas “agrava” a dimensão do problema, por reforçar a ocupação desordenada na região.
Para o especialista, maior eficiência na fiscalização e na proteção ambiental da Amazônia dependeria de estratégias que privilegiem agentes locais.
“O foco tem que ser em políticas implementadas junto aos governos municipais, que têm contato mais próximo com os problemas da floresta. Sem eles participarem de forma efetiva, fica difícil conter a devastação”.
(Por Marco Antônio Soalheiro,
Agência Brasil, 24/01/2008)