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2008-01-25
Três toneladas de sementes de milho e trigo partiram ontem do México rumo a um depósito sob o gelo construído em uma ilha da Noruega, no Circulo Ártico. Ali serão armazenadas junto a 200 mil variedades de outras plantas da Ásia, África, América Latina e Oriente Médio. O chamado Depósito Global de Sementes de Svalbard, que conterá a maior coleção de germoplasma do mundo, é um local que preservará a vitalidade das sementes durante milhares de anos.

“Este é um verdadeiro esforço do tipo cinematográfico, mas vale a pena para manter protegida uma coleção biológica inestimável diante de qualquer desastre causado pelos humanos ou pela natureza”, disse à IPS Rodomiro Ortiz, diretor de Mobilização de Recursos do Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo (CIMMYT), com sede no México. Ortiz disse que sua organização enviou à Noruega 48 mil amostras de sementes de trigo e sete mil de milho, todas em um estado biológico que permite seu cultivo imediato.

No carregamento, embarcado em 166, foram variedades de milho que representam cerca de 90% da diversidade existente dessa gramínea na América, que foi domesticada no México há cerca de oito mil anos. “O que posso garantir é que nesse material não há nenhuma semente transgênica de milho”, que são muito controversas, mas “que em alguns lugares certamente podem ser bem benéficas”, disse o funcionário do CIMMYT.

A variedade de arroz, trigo, feijão, sorgo, batata, lentinha e dezenas de outros alimentos, plantas forrageiras e agroflorestais ficarão protegidas no depósito criado como “um último recurso para salvaguardar o patrimônio agrícola da humanidade”, disse o Grupo Consultivo para a Pesquisa Agrícola Internacional (CGIAR). Esta organização, criada em 1971 e que reúne 15 centros públicos de pesquisa agrícola no mundo e mais de 8.500 cientistas, é responsável pelo fornecimento de todo material biológico que ficará no depósito.

As sementes de todo o mundo serão enviadas à aldeia de Longyearbyen, no arquipélago de Svalbard, na Noruega, onde foi construído o depósito. O local foi levantado pelo governo desse país e sua operação será financiada pelo Fundo Mundial para a Diversidade de Cultivos, um grupo não-governamental com sede em Roma. As coleções de sementes do CGIAR enviadas são duplicatas das que possuem os centros de pesquisa agrícola desse grupo com sedes em Benin, Colômbia, Etiópia, Filipinas, Índia, Quênia, México, Nigéria, Peru e Síria.

Juntos, os centros do CGIAR, entre eles o CIMMYT, mantêm 600 mil variedades de plantas em bancos de germoplasma. Segundo explicou Ortiz, os envios de sementes para a Noruega se repetirão nos próximos meses e anos com a intenção de completar uma coleção unitária e gigantesca. O diretor de cinema norte-americano Oliver Stone se interessou pelo processo de armazenamento e, segundo o funcionário do CIMMYT, filmara um programa sobre o Depósito Global de Sementes de Svalbard.

“As coleções do CGIAR são as “jóias da coroa” da agricultura internacional”, disse Cary Fowler, diretor do Fundo Mundial para a Diversidade de Cultivos, entidade que cobre os custos da preparação, empacotamento e transporte das sementes. “Estas remessas incluem as maiores e mais diversas coleções do mundo de arroz, trigo, milho e fijao. Muitas das linhas locais tradicionais destes cultivos teriam se perdido se não fossem coletadas e armazenadas nestes bancos de germoplasma”, acrescentou Fower em um boletim entregue pelo CGIAR.

O depósito poderá ajudar a renovar os bancos de germoplasma se estes forem alvos de algum ataque ou destruições, “algo de que não estamos livres”, disse Ortiz. Um banco de germoplasma do Iraque, localizado na aldeia de Abu Ghraib, foi saqueado em 2003. essa riqueza não se perdeu porque existia uma coleção-cópia no centro do CGIAR na Síria. Esse grupo recordou que o tufão Xangsane causou sérios danos ao banco nacional de Germoplasma de arroz das Filipinas em 2006. Ortiz afirmou que os bancos de germoplasma não são museus mas lugares onde se coleciona, mantém e melhoram sementes com o intuito de torná-las mais produtivas e adaptáveis a diversas coleções. Toda essa riqueza estará armazenada na Noruega longe de qualquer perigo, afirmou.

(Por Diego Cevallos, IPS, 24/01/2008)


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