Apesar de todo o alarde de defensores e adversários da manipulação genética, a probabilidade de encontrar um tomate ou batata transgênica num supermercado alemão é, até o momento, mínima. Quando o assunto é alimentação, a polêmica é garantida, em especial no tocante a produtos modificados geneticamente.
Durante dois anos, os partidos que compõem a coalizão de governo em Berlim debateram sobre a obrigatoriedade de etiquetação de produtos transgênicos e o cultivo de plantas modificadas geneticamente. Na sexta-feira (25/01), a nova legislação será votada no Bundestag, a câmara baixa do Parlamento alemão.
Para o consumidor alemão, a mais importante mudança é que ele passará a ser informado se os animais dos quais ele se nutre foram criados com plantas transgênicas. Ovos, leite e carne passarão a conter a informação correspondente em suas etiquetas.
Europa pouco aderiu ao cultivo de transgênicosAfinal, será que muitos dos produtos alimentícios oferecidos nas prateleiras e frigoríficos dos supermercados foram submetidos a mudanças genéticas? Tanto os críticos como os defensores da tecnologia genética dão freqüentemente a impressão de que ela é onipresente. Uns recorrem a esse argumento para pleitear regras mais rigorosas; outros justamente para alegar que as restrições não adiantam nada, já que os produtos transgênicos seriam inevitáveis.
Mesmo que as áreas cultivadas com plantas transgênicas aumentem por toda parte, sua porcentagem não é ainda tão grande como podem sugerir certos debates a respeito do assunto. Em 2006, elas perfaziam 102 milhões de hectares, o não chega a 6% de todas as áreas cultivadas do mundo. Na Alemanha, essa área era no ano passado de 2.700 hectares, ou seja, menos de 0,1% das terras cultivadas.
Mais da metade das áreas com plantações de transgênicos se encontram nos Estados Unidos: 55 milhões de hectares. A tecnologia está também bastante difundida no Canadá, na Argentina, no Brasil, na China e na Índia, mas pouco se impôs até agora na Europa.
"A utilização das sementes transgênicas, que são mais caras, só vale a pena em regiões com lavouras grandes", esclarece Heike Moldenbauer, da BUND, uma ONG de proteção ao meio ambiente e à natureza. Nesses casos, as plantas, que são resistentes a pragas, reduzem a necessidade de mão-de-obra e o risco de perdas na colheita, vantagens que pesam menos no caso de plantações de menor porte.
Alemanha importa mais do que cultivaA tendência se verifica também na Alemanha, onde o cultivo de transgênicos é mais difundido no leste do país, em que as propriedades rurais são mais amplas – uma herança dos coletivos agrícolas da era socialista. Segundo os registros do Departamento Federal de Defesa do Consumidor e de Segurança Alimentar, os agricultores de Brandemburgo, Saxônia e Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental são os que mais apostam em sementes modificadas geneticamente.
Ainda que a Alemanha permita a importação de numerosas plantas transgênicas, a única que pode ser cultivada no país é o milho MON 810. No restante do mundo, muito mais espécies são cultivadas através de sementes geneticamente manipuladas, sobretudo o milho, a colza, algodão e soja.
Mas o produto não vai diretamente para o prato do consumidor: 80% da colheita é utilizada como ração. Desde que foi proibido – pelo menos na União Européia – alimentar os animais com restos dos abatedouros e com farinha animal, os agricultores europeus recorrem de preferência à soja transgênica como ração animal, por ser um produto barato.
Portanto, quem quiser ter certeza de não estar consumindo transgênicos, precisa prestar especial atenção aos derivados animais, como ovos, leite e carne. Os 20% restantes da colheita de transgênicos são utilizados na produção de têxteis. Ou seja, a probabilidade de encontrar um tomate transgênico ou batatas modificadas geneticamente num supermercado alemão é – até o momento – muito pequena.
(Por Leila Knüppel,
Deutsche Welle, 24/01/2008)