Técnicos da Universidade Federal de Roraima (UFRR), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e das Faculdades Cathedral estão iniciando um projeto de pesquisa que permitirá conhecer o estado de conservação dos igarapés e mapear as principais ameaças para os recursos hídricos no Município de Boa Vista. O objetivo é analisar a qualidade da água, a biodiversidade e os impactos ambientais nos igarapés do lavrado.
Segundo Ciro Campos, biólogo do Inpa, a finalidade é conhecer a situação atual para dar início a um programa de monitoramento, ou seja, para observar ao longo do tempo como a água e a fauna dos igarapés estão sendo modificadas em conseqüência das atividades humanas.
Por enquanto, o estudo vai se limitar ao Município de Boa Vista, mas a expectativa dos pesquisadores é obter novos financiamentos e ampliar o estudo para outros municípios. O projeto é totalmente financiado com recursos do Fundo Municipal do Meio Ambiente, mas também conta com o apoio logístico do Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio), que desenvolve atividades em Boa Vista.
O estudo terá início no mês de fevereiro e deve se estender até janeiro de 2009. Na primeira etapa será realizado o mapeamento das bacias dos igarapés através de imagens de satélite, numa parceria entre técnicos do Inpa de Boa Vista e Manaus. Em seguida, os igarapés serão selecionados e visitados mensalmente para coleta de peixes e amostras de água. O coordenador do projeto, Henrique Silva, será o responsável pela análise de água, que vai ser realizada no Laboratório de Química da Universidade Federal de Roraima.
Os peixes serão identificados pelo biólogo Romério Briglia Ferreira, no Laboratório de Biologia das Faculdades Cathedral, em parceria com pesquisadores do Inpa de Manaus (AM). Além de analisar a qualidade da água e as alterações na paisagem, o projeto realizará o mapeamento dos impactos nas matas ciliares.
Segundo Romério Briglia, a derrubada das matas na beira dos igarapés e o estabelecimento de atividades que não obedecem à legislação ambiental podem comprometer de modo permanente o frágil equilíbrio dos ecossistemas aquáticos. O projeto também pretende envolver estudantes das universidades e escolas públicas de Boa Vista, como forma de incentivar o interesse científico e contribuir para a formação de recursos humanos nas áreas de recursos hídricos e ecologia do lavrado.
Biólogo do Inpa chama atenção para a agricultura no lavradoO biólogo Ciro Campos, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), disse que a conservação do lavrado deveria ser uma preocupação constante dos empresários que pretendem exportar produtos agrícolas, uma vez que o mercado internacional está cada vez mais exigente com relação à conservação de todos os ecossistemas naturais da Amazônia, e não apenas das florestas.
Recentemente, durante os debates sobre o plantio de cana na Amazônia, o ministro da Agricultura referiu-se ao lavrado como região de pastagens abandonadas e teve que se retratar, depois de uma enxurrada de críticas de ambientalistas e da comunidade internacional, já que o lavrado é considerado um ecossistema de savanas naturais, parte integrante do bioma amazônico, disse o biólogo.
A tendência para os próximos cinco anos é que os compradores internacionais sejam cada vez mais pressionados pelo mercado consumidor e imponham restrições crescentes não apenas aos produtores que causam desmatamento, mas também àqueles que estão implantando novas lavouras sobre áreas naturais, tanto nos lavrados de Roraima quanto nos cerrados do Brasil central.
Segundo ele, é urgente a realização de um planejamento sério e multidisciplinar para a utilização sustentável das terras do lavrado, com o objetivo de conservar os recursos hídricos e a biodiversidade, além de resguardar a competitividade dos produtores locais.
Num futuro próximo, os produtores que não estiverem alinhados com esta nova tendência, certamente vão obter preços inferiores no mercado internacional. Além disso, com o cenário de escassez de água no mundo, a água vai ser tornar um recurso com grande valor econômico. Cuidar da água é um investimento com lucro certo e retorno garantido, em todos os sentidos, complementou.
(Folha de Boa Vista, 23/01/2008)