Ninguém deveria ignorar que estamos imersos em uma profunda crise ambiental. Põe em risco o presente e o futuro da humanidade.
O paradoxo do nosso tempo é que quando se alcançou níveis desconhecidos de desenvolvimento econômico, de produção e consumo, ao mesmo tempmo se abate sobre a humanidade a terrível ameaça da mudança climática, aumenta a pobreza e a marginalização, avançam as terras áridas sobre as férteis, se erode o caudal genético do planeta, a água potável vai se transformando num recurso escasso, aumenta a concentração humana nas cidades, baixa a produtividade pesqueira e se deterioram os ecossistemas essenciais para a saúde ambiental planetária. É evidente que algo está muito mal. Com tantos alarmes soando, a “insustentabilidade” dos modelos aplicados se demonstra dia a dia.
Que se pode fazer? É preciso provocar uma mudança conceitual e estratégica em todos os setores da sociedade, o mais rápido possível. A educação ambiental é a melhor ferramenta a nosso alcance pra consegui-lo. Por várias razões. Assinalamos duas: porque se apoia no sentido comum, e porque deveria ser capaz de provocar mudanças na forma de ver e avaliar a realidade nas pessoas, tanto no plano individual como coletivo.
Sem dúvida, temos um problema a resolver. Há mais de três décadas se impulsiona a educação ambiental em todas as partes, e as metas seguem no horizonte. Por que não estamos já em uma segunda fase? Temos algumas explicações. Em primeiro lugar, ainda não conseguimos superar um aspecto conceitural básico. Muitos educadores e quase todos os tomadores de decisão seguem percebendo “o ambiental” exclusivamente como “o ecológico”.
Este empobrecimento do conceito inevitavelmente conduz a decisões equivocadas, pois falta considerar o social, cultural, político e econômico. mTambém segue sendo um obstáculo intransponível a rigidez dos sistemas e estruturas educativas para conseguir a flexibilização de conteúdos e estruturas educativas para atingir a flexibilização de conteúdos e enfoques que propõe a educação ambiental.
Enquanto isso, segue-se protelando uma sólida formação ambiental do corpo docente. Como explicação de fundo, devemos dizer que a educação ambiental se move em um terreno de permanente conflito. Significa que os acontecimentos, o sentido comúm e a análise detida da crise ambiental dominante, conduzem a algumas inquietantes e incômodas conclusões.
Devemos mudar: a) o modelo de gestão e uso dos recursos e o modelo de consumo imperante, impondo a poupança, a eficiência, a eqüidade; b) as estratégias de participação da sociedade na tomada de decisões, fortalecendo o empoderamento (exercício do poder pela população para gestionar e resolver seus problemas) e afiançando a governança (governar com maior equilíbrio entre o protagonismo do Estado e da sociedade civil) nosso ideal como indivíduos, onde o êxito pessoal e a autoestima se sustentem em respeito à cooperação, e não ao consumismo e à imposição.
Tantas mudanças assustam e incomodam. Aí está, seguramente, o miolo do problema. Por isso, falar de educação para o desenvolvimento sustentável – como se impõe agora – é perigoso. Poderia manter o modelo que se quer mudar, pois o desenvolvimento sustentável é um conceito ambíguo e confuso. Necessitamos de mais e melhor educação ambiental.
(Por Hernán Sorhuet Gelós*, Eco Agência, 24/01/2008)
*O autor é jornalista no Uruguai e escreve regularmente sobre meio ambiente para o El País, de Montevidéo. Tradução de Ulisses A. Nenê / EcoAgência.