Suspeita da doença foi confirmada; vigilante da Universidade Federal de Goiás morreu em 30 de dezembro, em GoiâniaOficialmente, foi a primeira vítima após os novos focos da doença; ministério incluiu Distrito Federal como local de contaminação, além de Goiás
Foi confirmada ontem, em Goiânia, a nona morte por febre amarela no país. Oficialmente, porém, foi a primeira pessoa morta desde o surgimento de novos focos da doença -o óbito foi em 30 de dezembro, antes, portanto, dos demais casos.
As outras oito mortes ocorreram neste ano -todos os que morreram com suspeita de febre amarela teriam contraído a doença no Estado de Goiás.
De acordo com o último boletim do Ministério da Saúde, 18 pessoas já contraíram a doença no Brasil, sendo 14 em Goiás, duas no Distrito Federal e duas em Mato Grosso do Sul. Foi a primeira vez que o Distrito Federal teve registro de contaminação segundo o ministério -até o boletim anterior, só teria havido contaminação em Goiás e no Mato Grosso do Sul.
A Secretaria de Saúde do Distrito Federal afirmou, no entanto, que os casos que lhe foram atribuídos podem ter tido origem em Goiás.
De acordo com o subsecretário de Vigilância à Saúde, Joaquim de Barros Neto, as duas pessoas -uma mulher de 59 anos e um homem de 55- moravam em área de fronteira com Goiás, para onde se deslocavam com freqüência.
VítimaRaimundo Pereira Ramos, 64, era vigilante da UFG (Universidade Federal de Goiás). Embora ele tenha sido infectado em Goiânia, a Secretaria da Saúde de Goiás diz que não se trata de um caso de febre amarela urbana. O órgão afirma que o campus da universidade é cercado por matas com grande quantidade de macacos. O vírus que provoca a doença também circula entre esses animais.
"O campus universitário faz divisa com várias chácaras e fazendas", diz o secretário da Saúde de Goiânia, Paulo Rassi.
Segundo o governo estadual, o vigilante não saiu de Goiânia nas semanas antes de morrer. Ele era funcionário de uma empresa que presta serviços para a universidade.
A vítima procurou o Hospital das Clínicas de Goiânia no dia 26 de dezembro. Médicos acharam que ele sofria de dengue hemorrágica e o encaminharam ao Hospital de Doenças Tropicais da cidade, onde morreu. Quatro dias antes da morte, ele chegou a ser vacinado contra febre amarela. O secretário Paulo Rassi diz que é improvável que o paciente tenha sofrido uma reação à vacina.
A Secretaria da Saúde do Estado investiga outros cinco casos suspeitos no Estado, incluindo três mortes.
Segundo a Universidade Federal de Goiás, não é possível determinar se o vigilante contraiu a doença no campus. Macacos morreram nos últimos meses no local, mas as causas não foram confirmadas. No campus, há um posto de vacinação contra a febre amarela.
A Prefeitura de Goiânia diz que continua em alerta contra a doença e que o caso não vai provocar mudanças nas medidas de prevenção. A procura pela vacina contra febre amarela nos postos de saúde diminuiu na cidade nos últimos dias.
Em Goiânia e na vizinha Aparecida de Goiânia, foram confirmadas pelo menos três mortes de macacos por febre amarela nas últimas semanas. De 2001 a 2006, não foram registradas mortes por febre amarela em Goiás.
São Paulo
Entre os novos casos da doença anunciados ontem pelo Ministério da Saúde está o de uma mulher de 22 anos que vive na cidade de São Paulo e se infectou com a forma silvestre da doença em Goiás, em uma viagem de ecoturismo. Ela já está curada. É o terceiro doente no Estado de São Paulo e o segundo na capital paulista.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, a mulher em questão -seu nome não foi revelado- foi internada no Hospital Municipal do Tatuapé em 11 de janeiro, mesmo dia em que chegou de viagem.
A confirmação de febre amarela só veio ontem, dia em que ela teve alta do hospital. A Secretaria de Saúde diz que não há risco de transmissão da doença na cidade de São Paulo.
(Felipe Bächtold, Talita Bedinelli e Ricardo Westin,
Folha de São Paulo, 24/01/2008)