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desmatamento da amazônia
2008-01-24
Medições feitas pelo Inpe indicam aceleração em meses de chuva, o que é anormal; preocupado, Lula reúne ministros hoje

Reaquecimento dos preços de gado e soja impulsiona corte da Amazônia, que pode ter batido 7.000 km2 entre agosto e dezembro

O Deter, sistema de detecção de desmatamento em tempo real do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) registrou a derrubada de 3.235 km2 de floresta na Amazônia nos últimos cinco meses de 2007. Mas a área real devastada entre agosto e dezembro pode ter alcançado o dobro disso: até 7.000 km2, segundo o Ministério do Meio Ambiente.

Os dados foram apresentados ontem em novo alerta de desmatamento na Amazônia. Preocupado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou uma reunião de emergência com seis ministros hoje no Palácio do Planalto.

Segundo avaliação da equipe da ministra Marina Silva (Meio Ambiente), o retrato feito pelo Deter indica uma tendência de alta "inequívoca" no ritmo das motosserras, cuja ação o governo vinha conseguindo conter desde 2004. O reaquecimento da devastação a partir de meados de 2007 já vinha sendo indicado por projeções do próprio Inpe e de um sistema independente, do Imazon, uma ONG de pesquisas de Belém.

Para o Inpe, o ritmo mostrou-se especialmente acelerado em Mato Grosso -que havia perdido a liderança no ranking do desmatamento para o Pará- e em novembro e dezembro, meses em que tradicionalmente não há corte raso da floresta porque chove muito.

Segundo o Imazon, no entanto, a real explosão no final do ano aconteceu no Pará: dados que serão publicados hoje pela ONG mostram um crescimento de 300% em novembro em relação a outubro. Para os cinco meses (agosto a dezembro), a perda da floresta aumentou 74%. Para o Inpe, o aumento foi de apenas 18%.

Para Adalberto Veríssimo, do Imazon, apesar das discrepâncias ambos os dados trazem uma mensagem clara: "O aumento do desmatamento está absolutamente confirmado e bem caracterizado". Em meados de 2007, quando essa tendência começou a aparecer, lembra Veríssimo, o governo negou a subida. Agora, se as projeções do MMA estiverem certas, em cinco meses, três deles (outubro a dezembro) de tradicional baixa na devastação, cortou-se 62% de tudo o que se cortou no ano passado.

Boi e soja, é claro

Marina Silva apontou como prováveis causas do aumento do desmatamento a pressão por aumento da produção de soja e carne, commodities cujos preços subiram. Os satélites indicam que o desmatamento se concentrou em regiões produtoras de soja -o Nordeste mato-grossense, onde o governador do Estado, Blairo Maggi, tem uma fazenda- e de gado -o Sudeste do Pará.

"A pecuária e a soja são atividades típicas desses Estados; a realidade econômica indica que essas atividades pressionam o desmatamento", observou a ministra. "Esperamos conseguir conter o desmatamento mesmo com o aumento do preço das commodities."

Veríssimo, do Imazon, se diz preocupado com o que acontecerá a partir de abril, quando a Amazônia seca e o desmatamento esquenta para valer. "A decisão de desmatar devido ao aumento das commodities já está tomada. Como o governo vai reverter isso?"

Ele afirma que o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento do governo ainda não incorporou as restrições de crédito aos produtores rurais que desmatam ilegalmente. Sem isso, avalia, será difícil evitar um desastre em 2008.

"Sem controle da produção, não teremos solução para o desmatamento", investiu Gilberto Câmara, diretor do Inpe, ao defender o rastreamento da origem da soja e do gado na Amazônia. Este deve ser o tema mais polêmico da reunião de hoje no Planalto: como conciliar o aumento da produção agropecuária e o avanço da fronteira agrícola com a queda do desmatamento.

A equipe do Meio Ambiente sugere o uso mais intenso de 160 mil quilômetros quadrados de áreas de florestas já derrubadas, áreas que seriam pouco aproveitadas. O Ministério da Agricultura estima em R$ 850 o custo por hectare de recuperação de pastos degradados e avalia que o valor elevado incentiva o abate de árvores para a abertura de novos pastos.

Decreto editado em dezembro por Lula pune quem comercializar ou mesmo transportar produtos de áreas desmatadas ilegalmente. "Vamos responsabilizar toda a cadeia produtiva", insistiu João Paulo Capobianco, secretário-executivo do Meio Ambiente. O decreto começará a ser regulamentado nos próximos dias, com a divulgação da lista dos 30 municípios que mais derrubam floresta. Os campeões são São Félix do Xingu e Cumaru do Norte, ambos no Pará, seguidos de Colniza (MT).

O aumento do preço das commodities é apenas um dos fatores de pressão sobre a floresta. Marina Silva atribui também à proximidade das eleições municipais uma resistência maior dos governantes locais à ação dos fiscais do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).

Conflito entre dados acirra briga com ONG

Os dois únicos sistemas de monitoramento do desmatamento em tempo real dão resultados conflitantes. Para o Deter, do Inpe, o recrudescimento da devastação aconteceu sobretudo em Mato Grosso. Para o SAD, do Imazon, o desmate explodiu no Pará. Nenhuma das duas instituições explica bem a diferença, mas ambas defendem os próprios dados.

Na média de cinco meses (agosto a dezembro de 2007), os dados para Mato Grosso coincidem em torno de 1.700 km2. Mas o SAD registra mais do que o dobro de corte raso no Pará nesse período: 1.297 km2, contra 591 km2 medidos pelo Deter. Em dezembro, o desmate registrado pelo Inpe em MT foi mais de 300 vezes maior que o visto pelo Imazon.

"Os dados do Imazon são uma furada. Eles estão subestimados", atacou o diretor do Inpe, Gilberto Câmara. Segundo ele, o método de processamento de imagens usado pelo Imazon é "mais rápido, mas menos preciso".

Adalberto Veríssimo, do Imazon, evitou polemizar. "Não vi o mapa do Deter ainda. Então não dá para explicar a diferença." Ele diz, no entanto, que está "bastante confortável" com os números. "Como a gente monitora MT há muito tempo, o sistema está bem calibrado."

(Marta Salomon e Claudio Angelo, Folha de São Paulo, 24/01/2008)

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