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biocombustíveis passivos dos biocombustíveis
2008-01-24

As imagens são suficientes para acalmar a alma. Campos dourados de grãos estendendo-se até onde os olhos podem ver; as flores amarelas brilhantes de brássica desabrocham nos campos europeus; os motoristas cruzam alegremente pelas auto-estradas, sorrindo com o conhecimento que o biodiesel que seu carro queima não prejudica o meio ambiente.

Entretanto, essa visão bucólica dos biocombustíveis -gasolina e diesel feitos a partir de plantas- em breve pode se tornar coisa do passado. A União Européia revelou na quarta-feira (23/1) um plano amplo para cortar as emissões de gases de efeito estufa em 20% em relação a 1990 e dramaticamente aumentar a participação de energias renováveis na composição de energia do bloco de 27 membros. O esquema também pede que 10% do combustível usado em transportes seja biocombustível. Este último elemento, porém, está se tornando cada vez mais controverso -e grupos ambientais nesta semana estão formulando uma acusação agressiva para deter os biocombustíveis.

"Não há como torná-los viáveis"
"A rota dos biocombustíveis não tem saída", disse o Dr. Andrew Boswell, consultor do Partido Verde na Inglaterra e autor de um estudo recente sobre os efeitos danosos dos biocombustíveis. "Eles vão criar danos ao ambiente e também produzirão problemas sociais dramáticos (em países tropicais onde grande parte do biocombustível é produzida). Basicamente, não há forma de torná-los viáveis."

As evidências contra o biocombustível reunidas por Boswell e outros ambientalistas parecem bastante condenatórias. Anunciado como o combustível que somente emite a quantidade de dióxido de carbono que as plantas absorvem quando crescem -tornando-o neutro- de fato resultou em um setor industrial lucrativo atraente em países em torno do mundo. Grandes trechos de florestas foram derrubados e queimados na Argentina e em outras partes para plantios de soja. Brejos de turfa ricos em carbono estão sendo drenados e florestas úmidas destruídas na Indonésia para dar lugar a extensas plantações de dendê.

Como as florestas freqüentemente são queimadas e a turfa oxida rapidamente, o resultado são enormes quantias de CO2 liberadas na atmosfera. Além disso, os brejos e florestas saudáveis absorvem CO2 -os cientistas referem-se a eles como "ralos de carbono"- tornando seu desaparecimento duplamente nocivo.

De fato, o Relatório Stern sobre a Economia da Mudança Climática, divulgado em outubro de 2006, estima que o desmatamento e outras mudanças no uso da terra são responsáveis por 18% das emissões de gás de efeito estufa em torno do mundo. Os biocombustíveis aceleram esse processo, dizem os ativistas.

A corrida do ouro
"Estamos causando uma catástrofe climática promovendo combustíveis agrícolas", disse o especialista em agricultura do Greenpeace Alexander Hissting, usando o termo do grupo para se referir aos biocombustíveis. "Estamos criando uma enorme indústria em muitas partes do mundo. Na Indonésia, surgiu algo parecido com uma corrida do ouro."

A União Européia parece ter pressentido a tempestade que está se formando contra os biocombustíveis. O plano observou que a meta de 10% depende da "produção ser sustentável", como ficou claro em uma apresentação da UE aos repórteres na terça-feira. A UE também quer tornar ilegal o uso de biocombustíveis produzidos em reservas naturais ou em florestas recém-cortadas. Os cultivos em lugares valiosos como ralos de carbono também deverão ser evitados.

Os críticos duvidam, entretanto, que as cláusulas que pedem que os campos aceitáveis sejam certificados sejam fiscalizáveis. "No momento, tais sistemas de certificação são muito incompletos e é muito improvável que jamais funcionem", diz Boswell. "A cadeia de oferta de biocombustível é incrivelmente complicada."

Até mesmo cientistas da UE questionam se os supostos benefícios dos biocombustíveis superarão os custos. Um relatório recente no "Financial Times" citou um estudo não publicado do Centro de Pesquisa Conjunta, uma comissão de cientistas europeus, que dizia que a "incerteza é grande demais para dizer se o alvo de 10% de biocombustível da UE cortará gases de efeito estufa ou não". Ele observava que os subsídios para promover os biocombustíveis custarão aos contribuintes europeus entre 33 e 65 bilhões de euros até 2020.

Ambientalistas dizem que as emissões não são o único problema sério criado pelo boom do biocombustível. Mesmo os cultivos dos países do Norte, como o milho nos EUA ou brássica na Alemanha e o resto da Europa, impõem grandes perigos ao clima. Tanto o milho quanto o brássica são consumidores vorazes de nitrogênio, levando os produtores a usarem grandes quantidades de fertilizantes de óxido nitroso. Mas quando este é lançado na atmosfera, reflete 300 vezes mais calor que o dióxido de carbono. Paul J. Crutzen, que recebeu o prêmio Nobel de química em 1995, estima que o biodiesel produzido a partir da brássica pode resultar em até 70% mais emissões gases de efeito estufa do que combustíveis fósseis. A planta preferida para produção de biocombustível nos EUA, o milho, resulta em 50% mais emissões, estima Crutzen.

"Um desastre total"
Outra questão que está recebendo atenção crescente recentemente é o aumento dos preços dos alimentos quando essa matéria-prima se torna combustível. Aumentos nos preços de soja e milho atingiram particularmente países em desenvolvimento.

De fato, houve distúrbios contra o preço de alimentos no México, Marrocos, Senegal e outros países em desenvolvimento. Apesar do aumento dos preços não poder ser atribuído inteiramente aos biocombustíveis, certamente estes tiveram um papel. Em outubro, o representante especial para o direito à alimentação da ONU, Jean Ziegler, pediu uma moratória de cinco anos sobre os biocombustíveis para combater os preços crescentes. Usar terra arável por biocombustíveis, disse ele, "é um desastre total para os que estão com fome".

Lentamente, parece que alguns governos estão começando a ouvir o coro de críticas. No último outono, a província canadense de Quebec anunciou que ia cessar a construção de plantas para produção de etanol. Na segunda-feira, o Comitê Ambiental da Câmara dos Comuns do Reino Unido determinou que o aumento do uso de biocombustível fosse combatido. "Os biocombustíveis podem reduzir emissões de gases de efeito estufa do transporte rodoviário. Mas, atualmente, a maior parte dos biocombustíveis tem um impacto negativo no ambiente", disse o diretor do comitê Tim Yeo disse, de acordo com a Reuters.

A União Européia reagiu com raiva ao relatório do Reino Unido. Andris Piebalgs, comissário europeu de energia, disse ao "Guardian" que "a Comissão discorda fortemente da conclusão do relatório da Câmara dos Comuns Britânica". O relatório, entretanto, é música aos ouvidos de ambientalistas como Boswell. "Nós apontamos esses problemas há anos", diz ele. "Agora é hora de o governo britânico agir em cima do relatório do comitê."

(Por Charles Hawley, Der Spiegel, tradução de Deborah Weinberg, UOL, 24/01/2008)


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